O polo de Chaves da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) foi palco do XXVI Encontro Galego-Português de Educadores pela Paz. Subordinado ao tema Educação Intergeracional na Construção da Paz, o encontro juntou educadores e especialistas dos dois lados da fronteira. No próximo ano, o encontro terá lugar na Galiza.
Ao longo de três dias (27 a 29 de abril), várias dezenas de participantes e conferencistas vindos de universidades, centros de investigação e agrupamentos de escolas de Portugal e da Galiza debaterem áreas diversas da educação intergeracional, animaram oficinas temáticas, serões de narrações tradicionais e apresentaram experiências de sucesso na revitalização dos testemunhos da memória e da identidade das populações rurais e urbanas. De um modo geral, o Encontro tocou temas que preocupam a sociedade atual, sendo que a fenda entre gerações denuncia debilidades que atropelam a dignidade humana, pelo que urge recuperar valores elementares da vida que ofereçam uma nova esperança e um significado peculiar de que vale a pena viver em sociedade. Num espírito de convivência e de bem-estar, portugueses e galegos partilharam reflexões e experiências, viveram serões à moda da aldeia e testemunhos da memória das identidades das populações urbanas em que não faltou o fado (com a flaviense Teresa Ventura), as cantigas de Abril e os contos tradicionais, dando continuidade a um património cultural enriquecido pelo calor humano. Um dos momentos mais altos foi a largada das pombas e a Foto da Paz, que criou uma especial ilusão nos participantes mais pequenos e não deixou indiferentes os adultos. A organização do encontro integrou diversas instituições – UTAD-Chaves, Associação Galego-Portuguesa de Educação para a Paz (AGAPPAZ), Nova Escola Galega de Educadores pola Paz, Movimento dos Educadores pela Paz de Portugal, Universidade de Santiago de Compostela, Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Vigo, Escola Superior de Educação Paula Frassinetti – e contou com os apoios da PÁGINA, da Associação Portuguesa de Animação e Pedagogia (APAP) e da Sociedade Iberoamericana de Pedagogia Social (SIPS). A sessão de abertura contou com a presença do delegado do reitor da UTAD, Américo Peres, com a vice-reitora da Universidade de Vigo, Maria Lameiras, com o diretor da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, José Luís Gonçalves, com a coordenadora da AGAPPAZ e membro da Nova Escola Galega de Educadores pola Paz, Carmen Diaz Simón e com o presidente da Câmara Municipal de Chaves, João Batista, que salientaram a importância de recuperar os valores básicos da vida em comum, reinventando um novo modelo de desenvolvimento humano, que combata o envelhecimento negativo e potencie a rede de afetos, o bem-estar e a qualidade de vida. Na conferência-colóquio Educação Intergeracional na Construção da Paz, Daniel Serrão, da Universidade Católica, sublinhou que a paz é possível no encontro com nós mesmos e no respeito pela dignidade da pessoa humana. Pilar Gallego Cid, do município de Allariz, referiu que a sua comunidade encontrou o sentido da solidariedade e do envelhecimento ativo através da cultura intergeracional partilhada nos centros sociais e nos espaços públicos do concelho. Estavam, assim, lançadas as ideias-chave que iriam animar o debate com os participantes. Num mundo em mudança é indispensável cruzar sentidos e direções e refletir sobre o modelo de sociedade em que vivemos e o que queremos construir para o futuro. Foi reconhecido por todos que, se considerarmos o impacto dos sistemas económicos, culturais, educativos, políticos e afetivos, é necessário repensar a igualdade como condição, restruturando estes mesmos sistemas com políticas que estimulem a participação dos idosos na sociedade, criando projetos que envolvam as diferentes gerações de modo a atenuar a solidão, a pobreza, o abandono e o isolamento, repercutindo-se nos bons cuidados e no bem-estar social, fomentando confiança e esperança numa sociedade mais humana, participativa e solidária. A construção desta identidade exige compromissos socioeducacionais e intergeracionais imprescindíveis para a transformação da sociedade. No segundo dia, o debate incidiu sobre Educação Intergeracional: direitos humanos, negociação e conflito, bons cuidados com os idosos, redes sociais e solidariedade. Ana Maria Vieira fez referência às tensões sociais e conflitos na escola, destacando formas de prevenção e de mediação sociopedagógica. Celso Fernandez Sanmartín contou a história do seu projeto, que envolveu uma relação de afeição gradual entre um grupo de crianças e um grupo de idosos, mostrando que esta relação é possível e que beneficia a saúde dos mais velhos, mas que exige estratégias recontextualizadas e estruturas de inclusão e igualdade. Miguel Angel Vásquez sensibilizou para a construção de um saber na relação com o idoso que envolva a solidariedade e o apoio em cuidados clínicos. Paula Quadros Flores abordou o tema Educação Intergeracional: redes sociais e solidariedade, enunciando características das diferentes gerações que compartem diariamente a vida e mostrou como esta nova era cria oportunidades, independentemente da idade, mas desafia a formação, a educação, a família e a relação com os outros para novos modos de estar, pensar e agir, alertando para riscos humanos que exigem ser repensados e prevenidos. Outras atividades revelaram o modo como diferentes gerações compartilham aulas na universidade, como convivem sustentando uma interação cultural, afetiva e de valores para a convivência e como se desenvolveram projetos colaborativos em escolas do 1º Ciclo, no âmbito da formação de professores. Foram apresentadas experiências inovadoras, em espaços rurais, com projetos dinamizadores no apoio às famílias e comunidades, a fim de promoverem a qualidade de vida e o bem-estar social coletivo e, simultaneamente, programas de inclusão intergeracionais. Outras experiências realizadas por investigadores lusos e galegos chamaram a atenção para a fragilidade dos laços sociais, referindo a necessidade de reconstrução de relações, nomeadamente no que diz respeito aos valores e afetos, bem como uma abordagem científica e um diálogo interprofissional e interinstitucional sobre as boas práticas intergeracionais. As oficinas/obradoiros – “danças do mundo”, “brincando com os aromas” “transmissão do património cultural”, “jogos e brinquedos para todas as idades” – trouxeram à memória o passado e o presente, o local e o global.
Américo Peres e Paula Flores
A pomba sabia onde cair
O sábado, día 28, botaron a voar unha pomba, fabricada en porexpán, dende a localidade portuguesa de Chaves. Era por volta do mediodía. Ata aí, o ritual foi semellante ó seguido en anteriores edicións. Pero esta vez, a diferencia do que ten acontecido outros anos, a aterraxe da pomba foi visto por unha parella. Esta particular ave pousouse nun monte de Bembibre, no concello de Viana do Bolo tras un voo de aproximadamente tres horas. A gran coincidencia desta historia é que nese mesmo municipio naceu Xesús Rodríguez Jares, a quen todos coñecían como Suso Jares e que foi tamén fundador de Educadores pola Paz. Así, lembra o profesor de Educación do Campus de Ourense Xosé Manuel Cid que ‘despois de anos sen saber onde caía, este ano foi aterrar no pobo de Suso’, falecido en 2008. A pomba emprendeu o voo acompañada polas respectivas direccións de cada un dos organizadores para que, se a persoa que a atopase o tiña a ben, comunicase o lugar da aterraxe. A parella que finalmente deu con ela fixo uso desas facilidades remitíndolle unha carta na que explicaban como viran caer a pomba e comunicaban a súa intención de entregarlla a algún dos colexios de Viana. O lugar escollido, por petición propia de Educadores pola Paz, foi o IES Carlos Casares. Precisamente, o salón de actos deste centro educativo leva tamén o nome de Suso Jares, aumentando así as coincidencias desta particular viaxe entre Portugal e Viana do Bolo. Alí permanece aínda hoxe a pomba e, dende a directiva do colectivo, non descartan facer algún tipo de acto para celebrar a chegada da ave de porexpán ó lugar de nacemento do seu fundador.
Notícia publicada no jornal galego La Región (15 de maio)
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