Esta é uma pergunta que muitas vezes me fazem. Como tudo em Educação, não há respostas fáceis. Mas eu acho que há respostas possíveis, potencialmente úteis, que deviam ser mais debatidas em Portugal.
No Ensino Básico a situação será mais simples do que no Ensino Secundário. Por um lado, mais pais estão a par dos conteúdos lecionados no Ensino Básico por serem efetivamente básicos. Mas no Ensino Secundário a situação complica-se consideravelmente, pois as matérias já são mais avançadas e pode até acontecer que sejam de áreas que os pais nunca sequer estudaram. Por outro lado, como o Ensino Secundário é o degrau de acesso natural para aqueles que querem entrar no Ensino Superior, a pressão de uma boa prestação é muito maior. Tradicionalmente, em Portugal, os pais recorrem a um sistema de “explicações” em que os filhos recebem um apoio que raramente é personalizado e que os faz treinar o que supostamente é mais importante para os “testes” ou os “exames”. O sistema português, se funcionasse bem, produziria resultados nos exames diretamente proporcionais à quantidade de bancas de explicações. Como assim não é, e como as médias nacionais a Matemática ou Físico-Química são quase sempre negativas, algo vai mal neste jardim à beira-mar plantado. O que acontece noutros países? Que lições poderemos tirar da experiência dos outros? A resposta passou a ser fácil com os estudos do PISA [Programme for International Student Assessment], pois este programa da OCDE tem dado origem a uma série de análises bastante profundas que podem (deveriam) fornecer aos diferentes governos um apoio interessante para a tomada de decisões. Inclusivamente, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico publica em língua portuguesa uns folhetos de quatro páginas onde se resumem muitas das conclusões desses estudos.
O “PISA em foco” no 10 (novembro de 2011) debruça-se exatamente sobre o que os pais podem fazer para ajudar os filhos a terem sucesso na escola. E o que nos diz? A conclusão é clara, para a área da leitura: “Qualquer mãe ou pai pode ajudar seu filho a alcançar seu potencial pleno, bastando para isso passar algum tempo conversando ou lendo com eles – até mesmo, talvez de modo especial, quando o filho é ainda muito pequeno. Os professores, as escolas e os sistemas educacionais deveriam estudar formas de ajudar os pais que são muito ocupados a desempenharem um papel mais ativo na educação de seus filhos tanto dentro como fora da escola.” Independentemente do seu nível socioeconómico, o envolvimento dos pais com os filhos produz sempre resultados notáveis. Mas se se tratar de conteúdos que os pais não dominam, como a Matemática, por exemplo? O folheto no 3 (abril de 2011) trata exatamente desta questão: vale a pena investir em aulas de reforço após o horário escolar? As conclusões talvez possam parecer surpreendentes, talvez não. Uma é que, “de fato, de acordo com os resultados do PISA 2006, o tempo que se leva estudando em aulas de reforço ou aulas individuais após a escola tem relação negativa com o desempenho”. Estava à espera de milagres? Pelo menos em Educação, não existem. Com efeito, as aulas suplementares são quase sempre repetições que não encaixam nas reais necessidades dos alunos com problemas de aprendizagem. Então, o que se deve fazer? As alternativas analisadas foram ter mais horas de aula com o mesmo professor que já leciona a disciplina ou com outro professor da mesma escola. Em muitos casos, horas suplementares produziram bons resultados, pois os alunos que foram a essas aulas estavam efetivamente interessados em melhorar os seus resultados e, normalmente, eram oriundos de estratos socioeconómicos mais baixos, desejosos de melhorar o seu estatuto social pela educação. As conclusões do PISA vão até mais longe: “As aulas após o horário normal com um professor da escola podem ajudar a diminuir as desigualdades, enquanto as aulas após o horário escolar com um professor que não seja da escola podem aprofundar as desigualdades entre os alunos”.
As horas de aula passadas com o próprio professor são as mais úteis para praticamente todos os alunos. Contudo, muitos países não têm condições para aumentar o número de horas de aulas. Que fazer então? Lição do PISA: “Quando se trata de aprender, é a qualidade das aulas na escola e a atitude do aluno com relação à aprendizagem o que mais conta, não o número de horas que o estudante leva estudando.” Parecem-me muito úteis e esclarecedores estes estudos saídos do PISA.
Jaime Carvalho e Silva
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