O VI Encuentro Iberoamericano de Colectivos Escolares y Redes de Maes tros/as que Hacen Investigación e Inno vación desde la Escuela congregou mais de 800 professores e professoras da América Latina (México, Venezuela, Colôm bia, Equador, Peru, Argentina, Uruguai, Chile e Brasil) e de Espanha (Sevilha e Madrid). Muita emoção e um sentimento de potência que teimosamente continua a nos alimentar. É assim que descrevemos de forma sucinta a experiência, no sentido benjaminiano, de termos participado visceralmente do encontro realizado em Córdoba (Argentina), de 17 a 22 de julho. Como um bálsamo, os cinco dias de encontro constituíram espaços e tempos de trabalho de pensamento e exercício de reflexão compartilhada sobre as escolas que temos e as escolas que todos os dias trabalhamos amorosamente para torná-las melhores para todos/as. Este encontro de coletivos e redes que fazem investigação e produzem conhecimento desde o “chão da Escola”, em seus quatro grupos de trabalho, que se reuniam diariamente para compartilhar e discutir experiências durante uma média de 10 horas, tempo de trabalho no qual nenhum professor e/ou professora deixava de escutar o outro, de acolher o outro, de se enredar responsavelmente na crítica e aprofundamento do trabalho realizado pelos diferentes coletivos docentes. O que vivemos intensamente em Córdoba, de certa forma, corrobora aquilo que aprendemos em um coletivo que nos une: o Grupalfa [Grupo de Pesquisa Alfabetização dos Alunos e Alunas das Classes Populares], coordenado pela professora Regina Leite Garcia. Temos construído no Grupalfa a concepção do trabalho com um princípio educativo, que numa perspectiva gramsciana nos provoca a pensar o nosso trabalho de professoras e formadoras de professores/as como um trabalho político e epistêmico de produção coletiva de conhecimento, que não aparta as dimensões práticas das dimensões teóricas nas quais produzimos a vida cotidiana em nossas escolas. Em nossos grupos de trabalho diário, nestes cinco dias de encontro, a prendemos a ser mais generosas, mais atentas e solidárias aos problemas e desafios de docentes das escolas mais distintas: de grandes metrópoles, das periferias urbanas, dos loteamentos pobres, escolas rurais, dos pueblos originales, escolas mestiças nas faces e almas incansáveis de professores e professoras de diferentes gerações. Nestes cinco dias de encontro vivenciamos as lições de Paulo Freire, para quem “ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, sendo que homens e mulheres se educam em comunhão”. O que gostaríamos de compartilhar com os/as leitores/as é a experiência de potência que este encontro nos proporcionou. Somos professoras que trazem a escola na alma. Não uma alma ingênua, que pensa a escola de forma isolada, apartada das contradições sociais e das profundas desigualdades sociais e culturais produzidas pelo modelo capitalista perverso que viceja na América Latina. O que nos uniu em Córdoba e que irá continuar nos unindo até o próximo encontro, daqui a três anos, no Peru, é o desafio de continuar lutando para que nos territórios escolares (e fora deles) possamos – professores, estudantes, familiares e todos aqueles que sonham por um outro mundo melhor – edificar práticas e pensamentos, “alternativas de alternativas”, para a construção de um “conhecimento prudente para uma vida decente”, que, como nos ensina Boaventura de Sousa Santos, é uma condição para reinventarmos uma vida digna e mais justa para todos, crianças, jovens, adultos, trabalhadores e trabalhadoras, tanto na América Latina como em todos os países do mundo. A lição de Córdoba seguirá gravada no coração e na alma: há que lutar sempre, sem perder a ternura e a vigorosidade necessária, bem como a disciplina cotidiana de estudar, refletir, pensar, trabalhar sempre para ser melhor. E ser melhor é tentar ser simples e forte. Como o encontro de Córdoba nos ensinou.
Carmen Sanches e Tereza Goudard
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