A partilha e a produção de conhecimento apresentam-se como um filão a ter em conta. Afinal, nesta área, a realidade altera-se a uma velocidade muito superior à que usamos quando escrevemos sobre ela.
A educação para uma utilização responsável da internet é um tema sobre o qual existem mais interrogações do que respostas. Na era da informação, as práticas sociais modificam-se com celeridade; o que é verdade hoje, amanhã é mentira. As redes sociais, os jogos de browser, os chats combinam-se entre si, tornando estes conceitos fluidos e até esbatidos. Uma criança que se envolva com determinado jogo pode interessar-se por uma rede social (ou então é uma rede social que disponibiliza o jogo), interagindo com outros jogadores através de troca de frases em tempo real. O educador fica assim confuso, tendo de confrontar-se com práticas e conceitos que não conhece – por muito que se queira manter a par. Em textos anteriores, descrevemos algumas dinâmicas de grupo que podem ajudar nas abordagens destes temas. O levantamento de necessidades sobre práticas do uso da internet pode passar muito pela utilização destas técnicas de grupo. Ao promover o diálogo e a partilha de experiências, o educador fica de sobreaviso em relação a certos comportamentos que poderão ser de risco. Assim como pode mapear eventuais apropriações criativas da tecnologia disponível junto dos mais novos. Abordamos aqui um outro nível de partilha que muitas vezes é usado em projectos de promoção de saúde nas escolas: a utilização de métodos interactivos e dinâmicos em grupos de professores. Quais os objectivos de semelhante actividade? Um deles dirige-se à apropriação de conceitos e práticas – sendo que os professores menos à-vontade nestas áreas poderão beneficiar dessa troca de impressões e experiências. Outro poderá passar pela sistematização de certas regras e limites a aplicar na escola (por exemplo, locais em que se pode aceder à rede, quantidade de tempo, sites autorizados e não autorizados). Poderá ainda debater-se quais os sinais de alarme específicos desta problemática, que atitudes tomar quando são detectados e quais os recursos disponíveis numa determinada comunidade escolar. As conclusões deverão ser objecto de sistematização. A sua partilha com outras escolas poderá ser importante. A apresentação dessas conclusões (ou de algumas delas) junto de alunos aproximar-nos-á eventualmente da realidade dos mais novos. Finalmente, o confronto das conclusões com o que se vai escrevendo na comunidade internacional será um vector indispensável. De qualquer modo, e apesar de o conhecimento científico desta área ser obviamente indispensável, a utilização de abordagens que privilegiem a partilha e a produção de conhecimento a partir dos dados recolhidos (na tradição da grounded theory) apresenta-se como um filão a ter em conta. Afinal, nesta área, a realidade – leia-se comportamentos dos jovens face às novas tecnologias e à internet – mexe-se a uma velocidade muito superior à que usamos quando escrevemos sobre ela.
Rui Tinoco
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