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Novo ano, velhos problemas

Ou criamos uma energia colectiva para gerar o salto para o futuro ou confinar-nos-emos às consequências derivadas da passividade e da acomodação. A Escola está no meio desta turbulência, que desencanta a quem se destina. De nada lhe valerá resistir à mudança, simplesmente porque tudo está a ser posto em causa e reequacionado. No desporto, também.

No início de mais um ano escolar, regresso aos velhos problemas por resolver. É o caso na Educação Física. Alvin Toffler escreveu há trinta anos: “Vive-se uma época de mudança explosiva. (...) Velhas maneiras de pensar, velhas fórmulas, velhos dogmas e velhas ideologias, por muito queridos ou úteis que tenham sido no passado, já não se coadunam com os factos. (...) Não podemos meter à força o mundo embrionário de amanhã nos cubículos convencionais de ontem”.
Ora, a citação de Toffler adequa-se ao velho problema que temos por resolver, isto é, o evidente desajustamento entre o mundo que vivemos e a oferta que a Escola disponibiliza, o que torna indispensável um novo olhar para os sistemas educativo e desportivo como sistemas que devem interagir entre si e com todos os restantes. A verdade, porém, é que essa interacção não existe.
Há, portanto, a necessidade de um esforço colectivo, de interrogação, sobre este desajustamento, na perspectiva de, tendencialmente, fazer ajustar a actividade educativa aos novos ritmos da vida. E assim sendo, na esteira de Carlos Fuentes, impõe-se questionarmo-nos se “estamos a morrer ou a nascer?”. Melhor dizendo, numa aproximação a este contexto, se a Educação Física está a morrer ou a renascer?
Trata-se de uma questão essencial, isto é, se a tendência é aferrolhá-la ou, pelo contrário, libertá-la dando largas à imaginação geradora de uma Educação Desportiva, bem cultural e de felicidade para quem a pratica e recompensadora para quem a orienta, no plano da plena satisfação profissional.
Este é o dilema que o Ministério da Educação, a Escola e as instituições profissionais e políticas estão confrontados.
Interrogo: por que razão os jovens terão de se subordinar, tal como ontem (um ontem de várias décadas), a programas estandardizados e desadequados que pouco ou nada têm a ver com a sua maneira de ser e com as suas expectativas? Programas baseados numa taxonomia discutível, repetitiva, desmotivadora e discordante das necessidades do seu corpo, da sua saúde, da sua inteligência e da sua cultura? Porquê estarem sujeitos à estandardização que nega, a partir de um determinado estádio, o direito à opção e à livre escolha de prática? Programas que os agridem em regimes de turmas mistas, que são de uma chocante artificialidade e que não respeitam a estrutura da cadência da organização do nosso tempo?
Há sustento e pertinência no debate destas questões. Elas derivam da prática. Considero ser necessário avançar para um paradigma organizacional que contrarie as lógicas do passado, numa incessante busca de soluções personalizadas à medida de cada comunidade, de cada escola e de cada jovem. Os tempos são outros. E, das duas uma, ou criamos uma energia colectiva para gerar o salto para o futuro ou confinar-nos-emos às consequências derivadas da passividade e da acomodação. A Escola está no meio desta turbulência, que desencanta a quem se destina. De nada lhe valerá resistir à mudança, simplesmente porque tudo está a ser posto em causa e reequacionado de novo. No desporto, também. Só por aí, através de uma nova mentalidade e de uma nova postura, se poderá, no futuro, dispor de uma população que o assuma e pratique como bem cultural.
É verdade que a mudança sempre incomodou consciências adormecidas por anos a fio de rotinas. E se é normal que tal aconteça, também é normal que surjam momentos em que se agitem ideias, em que se troquem opiniões e em que se divulguem experiências. Para que tudo possa renascer. Por isso, questionar hoje a Educação Física é, antes de mais, criar as condições para que ela possa renascer.
Trata-se de um trabalho a ser partilhado por todos, dos professores aos políticos, sem dogmas, sem preconceitos e sem ideias preconcebidas, já que aquilo que está em jogo deverá ultrapassar clivagens de opinião. Todas são bem-vindas. Um projecto portador de futuro constrói-se na diversidade das ideias e no pluralismo das opiniões. Um posicionamento destes relega, portanto, o isolamento por ausência de debate. É por isso que se impõe uma cruzada de criatividade a caminho de novas soluções concordantes com o sentido das mudanças.

André Escórcio


  
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