O II Encontro de Investigadores promovido pela Universidade Lusófona do Porto (8 e 9 de Julho) centrou-se num tema de enorme acuidade, Investigar em Educação e Mudança na Escola, propondo um debate de reflexão sobre os problemas, as exigências e o estatuto da investigação no século XXI.
Nada mais oportuno e exigente, num momento em que um novo Ministério da Educação se declara disposto a (re)analisar a situação do Ensino, que nos últimos tempos (mas poderíamos retroceder à reforma da I República) vem sofrendo tratos de polé por todas as partes intervenientes. Para se avaliar o alcance deste encontro, em que participaram notáveis especialistas credenciados por importantes estudos e representação institucional, bastaria fixarmo-nos na conferência da professora e ex-secretária de Estado da Educação Ana Benavente, que, afirmando a “importância da Educação para a evolução das civilizações e das democracias”, exortou os profissionais do sector a uma “reflexão partilhada”, e “provavelmente polémica”, como “ponto de partida para um trabalho mais ambicioso”, “de questionamento crítico”, tendo como objectivo “avançar, ultrapassar bloqueios e resolver problemas”. Notando que reflexão e debate são incontornáveis em democracia, pois que “toda e qualquer construção científica é humana na sua natureza, uma vez que é resultante da actividade dos seres humanos na busca do conhecimento com maior certeza e acuidade, apesar de todas as dificuldades existentes: sociais, epistemológicas e gnoseológicas”, a ex-governante considera que é preciso ter sempre em conta que “a fragmentação e a especialização levam demasiadas vezes à perda de sentido dos saberes, ao contrário do que procurava a constituição das Ciências da Educação (tratava-se de articular disciplinas dissociadas em torno da Educação como fenómeno pessoal, social, cultural, institucional, ideológico, económico e histórico)”. Acresce, ainda, “uma procura de cientificidade na dificuldade terminológica e na redacção ‘tortuosa’, o que, se pode ser expressão de propostas ricas e férteis, é também, muitas vezes, o preenchimento de um vazio de conteúdo – perde-se o fio à meada, e numerosos textos académicos aparecem caóticos, descentrados, vulgares”. Para a ex-secretária de Estado, a temática da Educação “é hoje um objecto sem prestígio académico, científico e social. Tornou-se um tema fraco, para não dizer que faz parte das novas exclusões”. Relativamente à investigação, propriamente dita, Ana Benavente deixou claro que, na Europa, “os financiamentos parecem partilhar dos mesmos problemas que os outros domínios políticos e económicos, demasiado objectivos e contraditórios entre si, o que leva a bloqueios e ao domínio dos aspectos menos nobres e menos férteis da promessa que foi e pode ser a União Europeia: utilitarismo, ausência de perspectiva estratégica – de capacidade de antecipação – e domínio da burocracia”. “Um novo tipo de imperialismo”, afirmou, “é contra isso que temos de lutar, contrariando as lógicas, dando-lhes a volta, contornando-as e combatendo-as. Jogando parcialmente o jogo para conquistarmos espaços de liberdade, de questionamento crítico e de construção de alternativas”. Quem esteve atento à mensagem de Ana Benavente não pode deixar de ver nela um manancial de reflexões e de propostas de ideias e atitudes, às quais, por constituírem um profundo e laborioso estudo, qualquer síntese poderia roubar a densidade .
Vânia Cosme
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