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A República em casa

A capacidade de mobilização de diferentes instituições e pessoas para um objectivo comum, a chamada de atenção para a preservação de memórias, o sentido intemporal das ideias e as “lições” que a História nos vai legando, são razões mais do que suficientes para se repetirem experiências colectivas como esta.

A República Lá em Casa foi o título que resolvemos dar a um reencontro com a 1ª República promovido pela Casa-Museu Abel Salazar, em S. Mamede de Infesta, em parceria com a Escola Secundária do Padrão da Légua (Matosinhos).
Na sequência de um ano particularmente atento às questões da 1ª República, resolveu-se enveredar por um caminho original, partindo de uma ideia do professor Paulo Pais. Essa originalidade resultou não apenas de uma encontro de vontades entre organismos culturais e educativos (Casa-Museu e Escola), mas também pelo conteúdo por que se optou – lembranças, memórias, testemunhos materiais, documentos... – que todos, mais ou menos, temos nos espaços que habitamos, mas a que, nem sempre, atribuímos a importância histórica que efectivamente têm.
O texto de entrada na exposição – aberta ao público entre 14 de Janeiro e 5 de Março de 2011 – explicitava: “A República, afinal, também habitava nos espaços familiares mais escondidos e menos visitados. Das caixas, dos sótãos, das arcas ..., saíram fotos, postais, objectos, livros..., que nos recordam a passagem dessa época histórica pelas vidas dos nossos antepassados próximos e distantes. Partilhar essas recordações é reviver o significado desse tempo nesse quotidiano ancestral mas também mostrar as marcas de um tempo de grandes transformações políticas. As histórias da família e do país entrelaçam-se e explicam-se reciprocamente.
O percurso material, visual e histórico que foi escolhido transporta-nos para os antecedentes da implantação da República (1850-1910), para as convulsões e realizações que marcaram esse regime fugaz entre 1910 e 1926 e para a sua substituição por um Estado Novo que aparece institucionalizado com a aprovação da Constituição de 1933. Os textos, os factos, as imagens e os objectos são sobretudo um bom pretexto para viajarmos historicamente até um período que comemoramos e celebramos, mas que, sobretudo, nos pode ajudar a pensar na capacidade que sempre tivemos de nos reencontrarmos, individual e colectivamente”.
Esta preocupação de explicitar o sentido intemporal deste período histórico – a História tem sempre lições/experiências que devemos saber perscrutar – deveu-se também ao público que foi privilegiado: os alunos das diversas escolas, em particular a interlocutora da exposição, mas também outras, nomeadamente da Maia, que não apenas colaboraram cedendo materiais (por exemplo, a Escola Básica Dr. Vieira de Carvalho, de Moreira da Maia), mas organizando visitas pedagógico-didácticas. Destaque-se ainda o envolvimento de muitos particulares que resolveram colaborar nesta experiência, histórica, mas também cívica, cedendo muitas recordações que tinham deste período. A multiplicidade de bustos da República, que se transformou na imagem de referência da exposição, é um dos muitos exemplos desta participação da comunidade envolvente – no caso, a Tertúlia Castelense.
Face ao esforço realizado, podíamos considerar o número de visitantes reduzido (cerca de três centenas). Sabemos, no entanto, que esta capacidade de mobilização de diferentes instituições e pessoas para um objectivo comum, esta chamada de atenção para a preservação de memórias, o sentido intemporal das ideias e as “lições” que a História nos vai legando, são razões mais do que suficientes para repetirmos experiências colectivas como esta.

Luís Alberto Alves


  
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