Os impactos das novas tecnologias têm revolucionado a circulação de informações e a difusão de conhecimentos científicos. A socialização dos conhecimentos científicos é crescente, e esta nova configuração do modo de comunicação tem implicações diretas no campo da Educação.
O final da ditadura egípcia no 11 de fevereiro de 2011 vem trazendo discussões de diversos tipos: em torno do significado dos atuais movimentos populares que se desenvolvem para aquela região e o mundo; sobre o papel de mobilização das diversas redes sociais na mobilização das pessoas. Acrescentaríamos uma terceira questão que é o fim da era dos Bushs e a ascensão de Barack Obama e seu não comprometimento com as ditaduras que se instalaram nos países árabes para manter a hegemonia dos financistas do petróleo na região. Todas essas questões precisam ser realmente melhor discutidas para que as compreendamos. No limite desse artigo, queremos compreender um pouco mais a relação entre redes e educação, discutindo a “circulação” científica na área. É no cotidiano de cada “praticante” (Michel de Certeau) que podemos identificá-los como autores de sua história, como pessoas que criam, o tempo todo, com aquilo com que tomam contato, como seres não passivos. Somos uma “rede de subjetividade” constituída nas múltiplas relações que vivenciamos em diferentes contextos, dizendo que cada deles é um “mundo da vida” servido por um saber comum, formando, assim, uma “comunidade de saber”, que é, também uma “comunidade de afetos”, como acrescenta Janete Magalhães Carvalho. Considerando-se as várias possibilidades de interatividade permitidas pelas novas tecnologias, torna-se imprescindível pressupor a não passividade dos “praticantes”. Jesús Martín-Barbero lembra sobre isso que esse “novo modo de produzir, confusamente associado a um novo modo de comunicar, transforma o conhecimento numa força produtiva direta”. Um dos significados a que a afirmação do autor remete é que nesse novo modo de produzir, o receptor também encontra espaço para se fazer comunicar. Vamos compreendendo, assim, aos poucos, que os “praticantes” dos cotidianos são sempre ativos no processo de comunicação e de criação de conhecimentos. Em suma, o usuário de artefatos culturais é, potencialmente, ao mesmo tempo, produtor, autor, crítico, espectador, colaborador, contemplador, conhecedor, criador... Já que vivemos num mundo em redes, em que o fluxo de informações é extremamente rápido, faz-se necessário estabelecer eficientes canais de comunicação e é necessário que compreendamos como funcionam. Além disso, todo o saber científico e todos os avanços técnicos acumulados, na contemporaneidade, são, antes de tudo, um patrimônio histórico destinado ao uso universal (Pierre Lévy). Dessa forma, o conhecimento científico deve ser acessado e apropriado por todos, ultrapassando a idéia subjacente à expressão divulgação científica, que sugere uma unilateralidade ou, no mínimo, uma segregação entre cientistas e “todo o resto” (Certeau). Ao fazerem usos diversos e imprevisíveis das mídias, usuários/professores/pesquisadores põem os conhecimentos produzidos a circular, possibilitando apropriações, ressignificações e a criação de outros conhecimentos nessas redes. Por isso mesmo, temos lutado para que se considere que é mais aplicável à área da Educação o termo circulação científica. Os impactos das novas tecnologias têm revolucionado a circulação de informações e, também, a difusão de conhecimentos científicos. Vemos como crescente – embora ainda insuficiente – a socialização dos conhecimentos científicos nos dias de hoje. Essa nova configuração do modo de comunicação humana exerce implicações diretas no campo da Educação, uma vez que estabelecem novas formas de produzir/criar conhecimentos, sendo possível alocar, apropriar, fazer circular e re-organizar informações e conhecimentos, bem como promover uma maior acessibilidade e difusão dessas criações. Apostamos nesses percursos, trazidos pela Internet, entre imagens, sons, vídeos e textos que propiciam um navegar caótico pelas ciências, capazes de lançá-las para fora das fixações de conhecimentos e de currículos oficiais. Potência de levar as ciências para além dos seus limites, de fixações identitárias únicas, das lógicas de oposição e exclusão. Consideramos as possíveis redes da Internet – site, blogs, publicações, redes sociais – meios que deflagram interessantes possibilidades de pensar para o campo da Educação e ao que os pesquisadores da área precisam se dedicar a explorar e compreender. São as vozes sociais e os diversos discursos presentes nas novas redes de relações e interações, emergentes no seio da contemporaneidade, que possibilitam o fluxo livre de informações. É nessas redes que propomos a circulação de conhecimentos produzidos no campo da Educação, por meio de um diálogo no qual todos os envolvidos se assumam como protagonistas e produtores de conhecimentos e significações.
Alessandra Nunes Caldas
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