"Mais do que condenar ou justificar o inquestionável poder dos media, urge aceitar o seu significativo impacto e a sua difusão através do mundo como factos consumados, valorizando ao mesmo tempo a sua importância enquanto elemento de cultura no mundo hodierno”.
Foram já circulando nas páginas da PÁGINA alguns argumentos que mostram a importância da educação para os media. Também já foi aqui evocada a Declaração de Grünwald, assinada em 1982 por um grupo de peritos reunidos naquela cidade alemã. Há quase três décadas, num ambiente mediático completamente diferente do actual, este documento defendia: “Mais do que condenar ou justificar o inquestionável poder dos media, urge aceitar o seu significativo impacto e a sua difusão através do mundo como factos consumados, valorizando ao mesmo tempo a sua importância enquanto elemento de cultura no mundo hodierno. O papel da comunicação e dos media no processo de desenvolvimento não deveria ser subestimado, tal como a função desses meios enquanto instrumentos ao serviço da participação activa dos cidadãos na sociedade. Os sistemas político e educativo devem reconhecer as respectivas obrigações na promoção de uma compreensão crítica do fenómeno da comunicação entre os seus cidadãos”. Nestas três décadas, muitas outras declarações, recomendações, resoluções e directivas foram publicadas por organizações internacionais e europeias, entre as quais a Comissão Europeia e o Conselho Europeu, verificando-se uma forte incidência de produção de documentos na última década. Ainda no início de Março, foi publicada a Declaração de Bruxelas sobre Educação para os Media, surgida na sequência de uma conferência europeia (Educação para os Media para Todos) que teve lugar em Bruxelas, em 2-3 de Dezembro passado, por iniciativa do Conseil Supérieur de l’Education aux Médias e no quadro da presidência belga da União Europeia. Esta declaração tem por objectivo “propor um conjunto de recomendações relativas às acções educativas a levar a cabo, às competências mediáticas a desenvolver, ao acesso dos cidadãos à educação para os media e à investigação e às políticas europeias”. Destaca ainda a necessidade de cruzar experiências e de partilhar boas práticas no quadro de um diálogo aberto. Do ponto de vista dos argumentos teóricos e de declarações, a educação para os media parece, portanto, estar bem sustentada. No entanto, para que um trabalho a este nível passe do âmbito teórico para a prática, é fundamental que os diferentes agentes do terreno possam dispor de planos de formação e de matérias e recursos onde possam suportar a sua acção. Tendo presente esta necessidade, também revelada pelas conclusões da investigação, temos procurado – no âmbito do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho – produzir materiais que possam apoiar as práticas de educação para os media. Exemplo disso, três booklets, da autoria de Sara Pereira, Luís Pereira e Manuel Pinto, que têm os pais e os professores, mas também as crianças, como destinatários principais. O primeiro, intitulado «Como TVer», é dedicado à televisão e apresenta algumas das evidências da investigação sobre a relação dos mais novos com este meio; o segundo, «Videojogos: Saltar para outro nível», reflecte sobre o fenómeno dos jogos de vídeo, desde as práticas de jogo através das consolas até aos jogos on line; o terceiro é dedicado à Internet e às redes sociais, chamando a título a questão «Tudo o que vem à rede é peixe?». Os tópicos enunciados nas três publicações, escritos numa linguagem acessível para chegar a todos os públicos, pretendem ajudar a reflectir sobre a presença destes meios na vida das gerações mais novas, deixando algumas indicações de como agir em determinadas situações. Na parte final deixam-se mesmo algumas sugestões concretas de actividades para a família e para a Escola. Os dois primeiros foram distribuídos gratuitamente com o «Diário do Minho», prevendo-se também a distribuição por algumas escolas do 1o Ciclo do concelho de Braga. Estas publicações surgem integradas num projecto de educação para os media premiado em 2009 pela fundação belga Evens Foundation, estando já prevista a produção de outros recursos, de que aqui iremos dando conta.
Sara Pereira
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