O contexto da formação contínua dos educadores de infância em Portugal sofreu alterações substanciais a partir do início da década de 90, altura em que se extinguiu o Apoio aos Educadores de Infância, criado na altura do lançamento da rede pública de jardins de infância, pela Direcção Geral do Ensino Básico, e se deu início, em 1993, a um novo quadro de formação no âmbito do Programa Prodep. Os alunos que hoje em dia concorrem às Escolas Superiores de Educação na área da educação de infância não têm a mesma motivação dos antigos candidatos. Se há uns anos atrás uma importante parcela dos educadores encarava a profissão como uma vocação, hoje ela resulta de uma segunda ou terceira opção. É ainda de assinalar que se verifica uma tendência para a procura de áreas que se relacionam com a animação cultural e comunitária, correspondendo a um perfil de educador que seja, ao mesmo tempo, um animador. Se em termos práticos e pedagógicos os estágios conferem alguma noção da prática profissional, pode também afirmar-se que, na generalidade, os alunos entram no ensino superior com fragilidades que são difíceis de colmatar. É certo que a profissionalidade docente constrói-se, mas acredito que se os educadores não forem acompanhados de uma formação contínua devidamente estruturada, a maioria não saberá reestruturar os seus saberes ao longo da carreira. É por isso que, mais do que nunca, a formação contínua tem hoje um papel fundamental no desenvolvimento de competências técnicas e pessoais, uma vez que a formação inicial continua estruturada em termos mais científico-académicos, e os contextos de trabalho são muito diversificados. Nesse sentido, a formação contínua na educação de infância tem evoluído bastante nos últimos anos, e encontra-se inclusivamente num patamar mais avançado comparativamente aos restantes níveis de ensino. Em grande parte isto deve-se à própria postura dos educadores, que, talvez por se constituirem como um grupo profissional relativamente recente no seio do nosso sistema de ensino, desde sempre se abriram à formação contínua. As acções de formação para educadores de infância financiadas pelo programa Foco, iniciadas em 1993, têm-se pautado por uma evolução qualitativa considerável, nomeadamente no que se refere às modalidades de formação. Estas principiaram pelos cursos de formação, uma modalidade menos activa e pouco centrada na escola, tendo evoluído no sentido dos Círculos de Estudos e das Oficinas de Formação, centrados nas práticas da escola e de grupo, partindo da dinamização dos próprios docentes e apostando na intersectorialidade de saberes. E essa é uma das vontades expressas pelas estruturas superiores da administração: incentivar essas modalidades a assumir a parcela maior dos planos de formação. Inevitavelmente, existirão sempre hierarquias no interior do sistema - sejam elas fictícias, sejam elas institucionais ? que poderão levar alguns educadores a percepcionar alguma subordinação do ensino pré-escolar relativamente aos níveis de ensino subsequentes. Estou convencida de que esta percepção de diferenciação poderá esbater-se ao longo do tempo, mas só desaparecerá no dia em que todos os docentes receberem a sua formação inicial na mesma instituição, numa perspectiva integradora. Neste sentido, acredito que a generalização dos agrupamentos verticais e a crescente intersectorialidade de saberes entre os vários grupos de docentes podem contribuir para a maior profissionalização dos educadores e para que estes sejam encarados com igual importância pelos restantes professores. Uma palavra ainda para as diferenças de carácter profissional verificadas entre os educadores da rede pública e os da rede particular, que continuam a exercer a profissão em diferentes contextos e condições de trabalho. Cabe ao Ministério da Educação esbater essas diferenças de direitos e de deveres, nomeadamente através de regulamentação extra que incentive as instituições privadas a criar condições para que os seus profissionais possam frequentar a formação contínua como os demais. Quando, em 2006, se der por concluído o sistema de formação financiada pelo Prodep, no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio, estou convencida que a estrutura de formação contínua e a profissionalização docente em Portugal fica lançada, legando comportamentos e formas de estar que já não voltam atrás. Mas deve criar-se "algo mais" que continue a incentivar a formação contínua. A avaliação do desempenho, acompanhada de formação, é uma das soluções possíveis: ela dignifica e ajuda a profissionalizar os educadores de infância. Acima de tudo, considero que não se deve conceber a formação inicial como o fim de um capítulo. Elisa Agostinho Técnica Pedagógica da Estrutura de Apoio Técnico do Prodep III - Região Norte
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