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'O Teatro é a Minha Esposa, o Cinema é a Minha Amante'

Ingmar Bergman

Para a Irene Sampaio por todas as escadas subidas

Depois de ter terminado 'Fanny e Alexandre' em 1984, Ingmar Bergman declarou que seria o seu último filme. Este adeus ao cinema podia ser considerado como um testamento cinematográfico, no qual reapareciam os motivos e os temas dos seus filmes anteriores sob a forma de variações surpreendentes.
Nessa altura Bergman tinha 65 anos, a idade certa para a reforma.
Mas não o conseguiu... Pelo menos duas vezes por ano assinou encenações para o teatro, escreveu vários livros sobre a sua vida e sobre os seus filmes e ainda vários argumentos de filmes autobiográficos: 'As Crianças de Domingo', realizado pelo seu filho Daniel, 'As Melhores Intenções' (1992) do realizador dinamarquês Bill August - Palma díOuro em Cannes e o único estreado em Portugal - e 'Conversas Privadas' (1997) realizado por Liv Ulman.
E, apesar das suas declarações após as rodagens de 'Fanny e Alexandre', Bergman não conseguiu ficar muito tempo longe das câmaras. 'Depois da Repetição' foi apresentado na Suécia como uma realização para a Televisão, mas em todo o mundo - não em Portugal - o filme foi projectado em écrans do cinema, como uma versão cinematográfica da sua peça 'O Último Grito'. Agora, oferece-nos 'Na Presença do Clown', concebido primeiro como peça de teatro, mas, rodado para televisão. 'Escrevi-o para meu prazer. Podia ser unicamente uma coisa para ler, ou então outra. Sem ir muito longe na comparação, é como certas obras de Bach, nas quais eles escreveu uma série de notas, um pedaço de música sem indicar como devia ser tocada, nem com que instrumento(s)'. (Cahiers du Cinéma - Maio de 98).
Na mesma entrevista ao falar do trabalho de realizador Bergman disse: 'o meu trabalho pode oscilar entre uma solidão desesperada e um espírito de equipa muito libertador. Para mim, a solidão em si, nunca foi um problema. De facto, gosto da solidão e muitas vezes isolo-me voluntariamente. Aceitei sempre o isolamento profissional, que consiste de certa forma em ficar à parte de tudo. Os actores, ficam sempre mais próximos uns dos outros. E têm certos rituais que confirmam este espírito de equipa, que tem uma forte tendência a inflacionar-se. Mas ser realizador, é um trabalho solitário. Contactamos com uma enorme quantidade de gente diferente, e a passagem de fronteiras durante um trabalho é indispensável e extremamente intensa. Uma vez este acabado somos tomados pela angústia da separação. Isto pode durar uma semana, mas depois nunca mais se vê essa gente.
Tenho alguns amigos próximos Bibi (Anderson), Liv (Ulman), Erland (Josephson). Os outros são pessoas de quem eu gosto verdadeiramente. Mas este amor fica estritamente acantonado entre as 10h30 e as 14h45 no teatro, ou entre as 9h00 e as 17h00 quando rodamos'.
Segundo declarações de Bergman, 'Na Presença do Clown' constitui o seu adeus ao cinema - esperemos é que sejam tão verdadeiras como as que produziu há 14 anos.
Estocolmo, capital cultural da Europa em 1998, consagra uma grande parte do ano à celebração deste gigante do cinema e do teatro suecos. Uma vez por semana, projecta-se um filme de Bergman no FAGAL BLA ('Pássaro Azul'), o cinema da sua juventude, uma pérola que tem hoje 75 anos, mas que resiste à concorrência apesar de todos os palácios do cinema e multiplexes. Durante todo este ano vão organizar-se aí uma série de seminários sobre as diferentes actividades de Bergman, com a participação de numerosos colaboradores seus: actores, fotógrafos, cenógrafos, técnicos, etc..
Bergman fará 80 anos neste Verão, a 14 de Julho! Talvez pense em retirar-se para a sua Ilha para escrever. Mas também pode ser que possa mudar de opinião mais uma vez. A um artista, tudo é permitido; e a sua paixão não está certamente esgotada.
É difícil pensar que Bergman possa passar 'sem os seus companheiros infatigáveis': o teatro, o palco, os actores e o cinema, as salas de cinema, a cinematografia: 'eles acompanharam-me desde que eu construí o meu primeiro teatro de marionetas sobre a mesa pintada de branco do meu quarto de criança, onde instalei uma pequena máquina provida de uma manivela, uma cruz de Malta, uma lente, uma lâmpada de petróleo e de uma película sépia.
Durante estes anos as circunstância e o ambiente tornaram-se - como dizer? - mais grandiosos, mas a emoção não mudou.
Que emoção?
A paixão?
O desejo?
O amor?
A obsessão? Pode parecer grandiloquente, mas pode ser isso:
A obsessão.'

Paulo Teixeira de Sousa


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 69
Ano 7, Junho 1998

Autoria:

Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto

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