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O tempo da Filosofia

As ideias gerais

“Abolir as ideias gerais é a mais louca de todas as ideias gerais”. Não me lembro de quem disse esta frase, mas é útil. Todos temos “ideias gerais”, ao contrário dos animais superiores, segundo Charles Van Doren, em «Breve História do Saber». De facto, um esquilo sabe que ali existe a toca de outro esquilo; uma zebra sabe que os leões bebem naquele rio – por isso evita-o. Mas os humanos enunciam: “os seres nascem, crescem, reproduzem-se, envelhecem e morrem”. Isto é uma ideia geral a que nenhum macaco chegará, por mais próximo de nós que possa estar (como o bonobo, por exemplo).
A importância deste facto reside em que a Filosofia, num tempo de especialismo cada vez mais absurdo e crescente, continua a ter espaço – e deve tê-lo. Mas a Filosofia tem que se apoiar nas Ciências e evoluir com elas, sob pena de se tornar “filosofice”, o que é uma inutilidade, ou até prejudicial. Com o desenvolvimento da linguagem e da escrita, o Homem separou-se cada vez mais dos outros animais que conhecemos, porque transmite facilmente conhecimentos às gerações mais novas – aquilo a que chamamos “processo educativo”.
Hoje vemos profissionais que só se atrevem a falar da sua especialidade, isto é, gente que sabe imenso a respeito de quase nada, qual especialista em asas de mosca, mas só de mosca da fruta!
Esse especialismo tem consequências incríveis, como cada vez mais se recorrer a baterias de exames antes de um médico formular um diagnóstico. Reabilitar quem sabe um pouco de vários assuntos é importante. Chamar a atenção ao poder político é importante; melhor, deveria sê-lo. Ideia geral 1: o país precisa de território. Falhanço 1: se olharmos para o mapa de Portugal continental (semelhante a um retângulo) vê-se desenhado um “L” de litoral. O território, escasso, está desertificado, a partir de cerca de 30km em linha reta!
Ideia geral 1: o país precisa de população, de população jovem. Falhanço 2: cada vez mais jovens portugueses emigram, isto num país muito envelhecido. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), “entre 1960 e 2001 o fenómeno do envelhecimento demográfico traduziu-se por um decréscimo de cerca de 36% na população jovem e um incremento de 140% da população idosa. A proporção da população idosa, que representava 8% do total em 1960, mais que duplicou, passando para 16,4% em 12 de março de 2001, data do último recenseamento da população. Em valores absolutos, a população idosa aumentou quase um milhão de indivíduos”.
Perante este quadro, ocorre outra ideia geral, como alínea da ideia 2: temos que proteger os jovens.
“Porém, desde 2006 que os óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente ocupam o primeiro lugar nas causas de morte não-natural. De uma diferença mínima entre os 868 suicídios para as 850 mortes a lamentar nas estradas, em 2006, no ano seguinte o fosso alargava com o aumento de óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente (1014) e a manutenção da tendência descendente nas vítimas mortais em acidentes de viação (854). Segundo argumentam os profissionais de saúde mental, faltará contabilizar alguns dos registos efetuados pelo INE ao abrigo da “mortalidade por sintomas, sinais, achados anormais e causas mal definidas”.
É que, explicam, algumas das mortes de causa indeterminada poderão ser atribuídas a suicídio.
Segundo o INE, mais uma vez, a taxa deste tipo de mortalidade sem uma causa definida ascendeu em 2008 aos 64,5 por cem mil habitantes, enquanto, no mesmo exercício estatístico, os suicídios se ficam pelos 7,9 por 100 mil habitantes” (jornal Público, 15.03.2010). Portugal, estima-se, perde hoje 3.500 jovens até aos 30 anos/ano devido a abuso de álcool e outras drogas, acidentes de viação e suicídio!
Ideia geral final: sem ordenamento do território e só com idosos, Portugal acabará. 

Carlos Mota


  
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Edição:

Edição N.º 197, série II
Verão 2012

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