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A ONU faz esforços para conter a conversão de áreas de cultivo em produção de biocombustível
O relator especial da ONU para o Direito à Alimentação pediu, em 26 de Outubro, uma medida capaz de conter a tendência para transformar as terras destinadas ao cultivo de alimentos em áreas para a produção de combustível. Esta tendência leva à diminuição da produção de alimentos e ao aumento do seu preço. E quem mais sofrerá com ela serão os pobres mais pobres.
"É um crime contra a humanidade usar a terra destinada a produzir produtos alimentares para produzir biocombustíveis", disse o relator, o suíço Jean Ziegler, em Nova York.
Ele está à procura de apoio para o seu projecto de fazer com que a ONU imponha uma moratória para proibir esta prática durante cinco anos. Esta moratória teria o mérito de dar tempo a que se estudem outras formas de obter energia sem por em causa as necessidades alimentares de milhões de seres humanos.
Segundo Ziegler, com o rápido avanço da investigação científica, em cinco anos será possível fazer biocombustíveis e biodisel a partir de lixos agrícolas.
Numa intervenção perante uma comissão da Assembleia Geral da ONU, em 25 de Outubro, Ziegler afirmou que estava "gravemente preocupado com o facto de a produção dos biocombustíveis vir aumentar a fome no mundo".
"A súbita e mal concebida corrida para transformar comida, como milho, trigo, açúcar e outros alimentos em combustíveis, é uma receita para o desastre", destacou. De facto, este é mais um sintoma dos sinais do nosso tempo que promove a completa subordinação da acção humana à obtenção de lucro sem consideração pelos interesses e necessidades básicas das populações.
"Há sérios riscos em criar uma batalha entre comida e combustível que deixará os pobres e famintos dos países em desenvolvimento à mercê dos preços em alta dos alimentos, da terra e da água", continuou Ziegler no seu discurso.
Para Ziegler, os Estados devem garantir que os biocombustíveis sejam produzidos a partir de plantas não alimentícias, lixo agrícola e resíduos de colheitas e não da colheitas de alimentos.
Ziegler admitiu que os Estados Unidos e o Brasil, os dois actuais maiores produtores de etanol, são absolutamente contra a sua ideia de moratória. O Brasil produz etanol a partir da cana de açúcar. Os Estados Unidos usam o milho. A oposição destes dois países deixa pouca esperança em fazer avançar a moratória.
Um pouco por todo o mundo as opiniões públicas vão despertando para mais este perigo para a vida no nosso tempo.
Até aqui tem sido um caso de retórica de boas intenções mal estudadas e mal explicadas. Mas sob o pretexto de contribuir para reduzir a produção de CO2 grandes investidores foram vendo na produção de biocombustíveis mais uma fonte de lucros. Agora são já muitos os que sabem que os seus discursos são simplesmente fraude para esconder a ganância. «Os governos que usam biocombustíveis para lidar com o aquecimento global sabem que é pior a emenda que o soneto. Mas nem pestanejam. Precisamos de uma moratória de cinco anos nos biocombustíveis, antes que eles destruam o planeta», afirmava no jornal Guardian, George Monbiot dando desse modo voz a muitos cidadãos preocupados com mais este problema. Um problema para o qual é preciso chamar a atenção não só dos mais velhos mas, particularmente, dos mais jovens.

  
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Edição:

N.º 172
Ano 16, Novembro 2007

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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