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Nós, imigrantes
Estou certo que os pequenos não percebem o que é um imigrante. Um imigrante não tem Pátria, não tem Nação. O trabalho falta-lhe e tem que sair do seu país, para vender, o que é teu de seu: a força de trabalho. O mais novo não sabe o que é vender a força de trabalho, nem tem consciência do que é trabalho: a transformação de matéria-prima em mercadorias para vender. Se é muito pequeno, ajuda os pais, paciência , na paciência de estar o dia inteiro ao ar livre com chuva ou com frio e, por amor aos seus progenitores, cala o frio e a fome que tem e ajuda a mãe a transportar pesos. O mais difícil talvez seja falar uma língua que não conhecia ao nascer, mas que rapidamente aprende e ajuda os seus pais a traduzir e entender. E, em breve, o mais novo é o senhor da casa: entende de preços, pode debater com os vizinhos e não se zangam por serem todos de países diferentes. Os pequenos rapidamente conseguem falar três ou quatro línguas, porque não entendem que as portas vão estar fechadas.
Não há acolhimento especial para um imigrante. Deve dar explicações e ter os seus papéis como a lei manda. Imigrante é a diferença entre os que nasceram na pátria que é a sua e todos aqueles que precisam sair da sua, ou porque foi invadida, ou porque a mais valia, como diz Marcel Mauss não existe, ou simplesmente por se estar a tratar de organizar Convénios, acolher, fixar prazos de estadia no solo alheio, aí então todos são amigos, não há sotaque e a permanência existe apenas enquanto há trabalho e lucro.
A imigração, em séculos passados, era a invasão dos europeus para terras desconhecidas, apropriadas em conjunto com as pessoas e entregar trabalho escravo, até serem liberados pelos chamados Filipes, o filho e netos de Carlos de Habsburgo da Áustria.
A imigração neste século, é a passagem por curto tempo por um território emprestado. E a saída, também ela é breve, ao juntar moeda para sobreviver no seu território. O problema é com as crianças: habituam-se ao sítio que os acolhe e já não querem sair.
A imigração é a guerra entre a pobreza, a escravidão e o artesanato. Os que já estão formados e em altos cargos, nem precisam de dar explicações. São também eles proprietários. E, no mundo das crianças, elas as imigrantes, passam a ser proprietários do País que os tinha acolhido pobres, escravos e sem idioma para ser usado. Como nos tempos das Antigas Colónias, quando Portugal se apoderou do que havia no Continente Indiano, a par da Espanha sobre o que é hoje a América Latina, Manila, Tailândia. Luta entre a servidão e o patrão.
É a época que vivemos e não podia deixar de a comentar neste dia denominado da Hispanidade, o dia em que Colón chegou às Índias Orientais, esse 12 de Outubro de 1492, o dia da vergonha devido a uma imigração prolongada e soberana, com ideias exportadas de um Continente "culto", para outro como um México, um Panamá, um Cuzco, as ideias Quechuas e a habilidade de navegação desse Brasil de hoje.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 163
Ano 16, Janeiro 2007

Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

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