Dez anos após o fim da guerra inter-comunitária que atingiu a Bósnia entre 1992 e 1995, as crianças e os jovens deste país continuam a ser educados com base na segregação, incentivada pelos próprios pais, professores e escolas. É o que acontece, por exemplo, na escola secundária de Gornji Vakuf. ?Os muçulmanos? Não tenho contacto com eles. Nem sequer dizemos bom dia?, diz Ivana, uma croata de 13 anos, apesar dos colegas muçulmanos brincarem a poucos metros dela. ?Os pais e os professores aconselham-nos a não falarmos com eles. A guerra ainda não sarou todas as feridas? diz Ivana. Nesta escola existem algumas regras que é necessário respeitar à letra: recreios separados, acesso ao edifício por corredores distintos, salas de aulas no rés-do-chão para uns, no primeiro andar para outros. Consequências do projecto ?duas escolas sob o mesmo tecto?, resultante do compromisso firmado em 1999 pelos partidos nacionalistas no poder, sob forte pressão internacional. Na República Sérvia, onde mais de 90 por cento dos habitantes pertence a esta etnia, o problema da segregação não se coloca porque são raros os alunos croatas e muçulmanos - que lentamente voltam às suas localidades - a justificar um ensino separado. A ideia de juntar os alunos na mesma sala, com vista a criar turmas mistas num hipotético futuro, tem uma forte oposição. ?O croata é a língua de ensino na nossa escola, o bósnio é a dos muçulmanos. Recuso-me a que nos imponham turmas mistas e uma língua única?, afirma o director da escola croata, Jozo Jurina. Para Jasminka Drino-Kirlic, professora de língua materna na escola muçulmana, trata-se de um ?modelo clássico de segregação?. Durante 30 anos ela ensinou literatura aos jovens de todas as comunidades da ex-Jugoslávia. Hoje sente-se triste por ser obrigada a dar aulas apenas aos jovens muçulmanos. ?Estamos a educar gerações a pensar que a divisão é uma espécie de lei, cavando um fosso cada vez mais profundo entre as diferentes comunidades e marchando para uma nova guerra?, diz esta professora, que coordena também o único clube para jovens, etnicamente misto, da cidade. ?O clube é visto como um lugar perigoso por certos pais e políticos locais, porque mostra que é possível viver e trabalhar em conjunto?, explica Drino-Kirlic. ?Existem mesmo histórias de amor entre croatas e muçulmanos, mas eles recusam-se a assumi-lo em público?, acrescenta. Como o demonstra Eldar, um aluno muçulmano, que, apesar de admitir a beleza das raparigas croatas, garante que nunca irá namorar nenhuma. ?Os meus amigos não iriam gostar?, diz timidamente.
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