Grande é o desafio aos Educadores e Professores para que se mantenham acima da moda e da sedução da ?máquina? para criativamente a controlar e conferir-lhe conteúdos e funções substancialmente educativos.
As tecnologias da comunicação e informação, embora tendo antecedentes distintivamente modernos há muitas décadas, ganharam nas últimas décadas uma presença e importância que levou alguns a apelidar a presente sociedade nos países mais desenvolvidos como ?sociedade da informação?. A sociedade é a mesma, os seus instrumentos de auto-organização e de trabalho é que têm mudado rapidamente. A importância da presença das modernas tecnologias da informação e da comunicação não pode ser inteiramente avaliada se não tivermos presente que, no último meio século, a população mundial mais que duplicou (crescendo a 1,7%/ano), o PIB agregado quase sextuplicou (4%/ano), o comércio internacional de mercadorias e serviços cresceu quinze vezes (6%ano); e a energia fóssil quase 5 vezes (3.5%/ano). Paralelamente, os custos de transporte e processamento de informação decresceram drasticamente, enquanto os de transporte de mercadorias e passageiros declinou perceptivelmente apenas (excepto no modo de transporte rodoviário, em que estabilizou). Ora as tecnologias da comunicação e informação servem como instrumento para a observada tendência de concentração da produção por corporações transnacionais multicontinentais e servem os serviços de comunicação e logística que suportam o imenso tráfego internacional de mercadorias (e passageiros). Outra vertente em que elas são instrumento de concentração económica, e de condicionamento ideológico, é a fusão de empresas de serviços e de conteúdos os mais variados: serviços de Internet, operadores de telecomunicações, produtores de vídeo, produção TV, produção e distribuição de cinema, imprensa, editores livreiros, editores de música. Grandes grupos de media rivalizam com outros grandes grupos económicos. A expansão das telecomunicações fixas e móveis, o acesso à rede mundial Internet incluindo em suportes e protocolos em banda larga, a televisão por satélite e cabo, configuram uma mutação das infra-estruturas das redes de telecomunicações, na direcção da adopção geral de tecnologias do tipo Internet. Os fluxos de informação suportados e disponíveis são colossais. A disponibilização e o comércio de conteúdos é omnipresente. Ora deve ser nossa preocupação compreender estes processos e encaminhar os seus resultados para a elevação da qualidade de vida material e cultural da população. Colocar as novas oportunidades ao serviço do interesse comum sem que este seja subjugado por objectivos financeiros que interessam a uma ínfima parte da população. O Estado deve desempenhar essa função de garante do interesse público. As tecnologias da informação e comunicação tanto são uma evidente ameaça ao sistema Educativo como um poderoso auxiliar do processo de Ensino e Aprendizagem. A Escola não controla esta evolução, que é alimentada pelas tendências concretas do crescimento económico (boas ou más) e só pode ser comandada pelo poder político (assumido ou implícito). Os contextos de socialização são alargados, podendo ameaçar a centralidade do relacionamento entre criança/adolescente com educador/professor. Ao mesmo tempo que num mundo tendencialmente mais urbanizado e dominado por poderosas indústrias de serviços, o contacto com a realidade natural se distancie. O instrumento pode virar em sujeito e o sujeito em mero utente/consumidor. Esta ameaça é veiculada pelo discurso tecnocrático sobre a ?sociedade da informação e do conhecimento? que procura subverter ordens de valores e de comportamentos mediante palavras aparentemente inocentes. Grande é o desafio aos Educadores e Professores para que se mantenham acima da moda e da sedução da ?máquina? para criativamente a controlar e conferir-lhe conteúdos e funções substancialmente educativos. E para evitar o agravamento da perniciosa deriva para que muitos jovens se vejam alienados do conhecimento do mundo real que existe para além da máquina de feitos e conteúdos virtuais (verdadeiros ou inventados). Evitar que a alienação e a exclusão não acabe por se tornar em ?missão? oficial de uma Educação que estaria em grave crise de identidade. 13 de Fevereiro de 2005
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