Ouguela é uma aldeia rural do Concelho de Campo Maior, onde vivem 89 habitantes, na sua maioria idosos. A Escola de Ouguela possui cinco alunos e corre o risco de encerrar, em virtude de medidas economicistas. Mas qual é o papel da escola na Comunidade de Ouguela? Como é encarada a existência da escola por esta comunidade educativa? A História lembra o nome de Ouguela e a forma como os seus habitantes sempre souberam lutar pela independência de Portugal e pela defesa da nacionalidade. Em Ouguela, a Escola vive paredes-meias com o Centro Comunitário, onde crianças e adultos almoçam e convivem diariamente. A intercomunicação entre alunos, professores e comunidades surgiu, em Ouguela, como uma estratégia para responder à necessidade de comunicar com outras comunidades. Surgiu enquadrado pelo Projecto ?Longe Fazer Perto? e na sequência do ?Projecto das Escolas Rurais,? ? Projectos coordenados pelo Instituto das Comunidades Educativas. Esta intercomunicação podia basear-se no correio tradicional, na troca de materiais (tal como aconteceu com os alunos de Espanha), mas podia, no ano 2000, assumir, agora, um carácter mais dinâmico, através da utilização da Internet e do correio electrónico, na medida em que a RCTS colocara um computador nesta escola. O computador passou assim a fazer parte do trabalho diário, pela consulta do correio, pela construção de mensagens e mais tarde, através da realização de sessões de ?chat?, vídeo-conferência e pela construção de uma página web. Parceiros fundamentais, desde a primeira hora, neste processo educativo foram os pais e a comunidade. Este trabalho foi acarinhado por todos e, de uma forma muito especial, por António Gadanha... ou mais carinhosamente, António Camões, que preside à comissão de Ouguelenses que criou o Centro Comunitário e dedica a sua vida a servir a comunidade. Recebe com carinho todos os que visitam Ouguela, conta-lhes a sua história e lembra que ? as pedras deste castelo, onde tanto sangue foi derramado e que a tantas glórias assistiram, parecem agora envergonhadas do abandono a que estão votadas.? Zela, também, pelos idosos e embala os mais novos com o amor de um avô que os inicia nos encantos da vida em comunidade. Participa nas suas brincadeiras ensinando-lhes que, para além de tudo o que têm para aprender, não devem nunca deixar de ser crianças... E as crianças, assim acarinhadas, desenvolveram (no âmbito da intercomunicação com outras escolas), um trabalho de pesquisa sobre as suas tradições, promovendo um diálogo inter-geracional que os levou a contactar com os valores próprios da sua cultura, e tornou a aldeia (e a experiência de cada um) numa sala de aula viva. Conhecendo a sua herança cultural e divulgando-a, os alunos aprendem a valorizá-la, a amar o património que é seu; aprendem a defendê-lo e a mantê-lo vivo para as gerações futuras. Assim, com o carinho dos mais velhos e de toda uma população, as crianças de Ouguela procuram mostrar a razão da existência da sua escola: A possibilidade de aprender dentro e fora da sala de aula, fazendo dos saberes tradicionais e da sua própria cultura o ponto de partida para a compreensão do mundo e para a aquisição dos valores universais de cidadania. Aprender, no Alentejo pode e deve ser, na verdade, uma forma de ensino alternativo. Alternativo ao meio citadino, pois aqui as crianças podem aprender em contacto directo com a comunidade, perguntando, registando e estudando cada pormenor do seu quotidiano. Alternativo à massificação, aos conceitos tradicionais que conduzem à uniformização cultural e à perda de identidade de cada comunidade. As condições de aprendizagem de uma escola comunitária como a de Ouguela podem ultrapassar os conceitos próprios do ensino tradicional, pois, aqui, os alunos não vêm à escola só para aprender mas, também, para consolidar e enquadrar os seus conhecimentos. A escola dá-lhe as ferramentas, mas é, na verdade, a comunidade que se pode constituir como a sua verdadeira escola de vida. O Alentejo possui uma riqueza única que é a sua gente e a sua cultura. O Encerramento de uma escola rural, contribui para a destruição da identidade cultural de um povo.... E que melhor educação podem ter estes alunos do que aprender contactando diariamente com a comunidade onde nasceram? Aprender no Alentejo... poderíamos dizer... é ter uma biblioteca debaixo de cada pedra; é beber a água da fonte; é ouvir o chilrear das aves ou sentar à sombra de uma árvore e aprender com a brisa que passa... ... Mas Aprender em Ouguela é também aprender com a família, é comunicar o seu trabalho através da Internet, transmitindo preciosos conhecimentos sobre a sua cultura aos seus colegas e aos professores que carinhosamente os incentivam a continuar no seu trabalho. Em Ouguela, no âmbito do projecto ?Ciência viva?, desenvolvemos actividades de Educação Ambiental e de intervenção comunitária, criando espaços de troca, partilha e aprendizagem entre a escola e a comunidade, contribuindo para a criação de uma escola inclusiva e reforçando os laços e a identificação entre ambas as instituições. Ouguela tornou-se numa ?Janela aberta para o mundo?? e o mundo pôde conhecer Ouguela graças à intercomunicação entre alunos, escolas, professores, conduzindo à participação no projecto Sócrates/Comenius, ?De mãos dadas por uma escola melhor?, com parceiros de 7 países da Europa. A Intercomunicação, e todos os que através dela se juntaram aos 89 professores de Ouguela, deixaram um pouco de si no processo de aprendizagem e crescimento dos alunos. Cada um dos correspondentes tornou-se num elemento preponderante da afirmação de uma comunidade e contribuiu de forma decisiva para o crescimento destes alunos como elementos activos, críticos, participativos e conscientes da sua riqueza cultural, ambiental, histórica e também paisagística. Riqueza, essa, que assim se poderá afirmar como meio privilegiado para a formação das futuras gerações de Ouguelenses.
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