NATUREZA AZULQuando se fala de espaços azuis do que se trata é de produzir ou de revitalizar espaços públicos de água em meio urbano. Isto é: produzir ou devolver as frentes de água aos cidadãos?Uma vocação dos territórios com que nos vemos confrontados em algumas cidades neste início de século prende-se com a cada vez maior necessidade de espaços verdes e azuis. Como em artigos anteriores já tivemos, de certa forma, a oportunidade de abordamos a necessidade de mais espaços verdes na malha urbana, fixemo-nos pois então, nos espaços azuis, até porque em Portugal há imensas vilas e cidades com frentes ribeirinhas ou com vocação marítima. Quando se fala de espaços azuis do que se trata é de produzir ou de revitalizar espaços públicos de água em meio urbano. Isto é: produzir ou devolver as frentes de água aos cidadãos criando neles pólos ou circuitos recreo-turísticos ribeirinhos. É sabido que muitas cidades têm por origem um ponto de água: a grande parte delas foram-se desenvolvendo à volta dos portos de mar, nas margens ou no cruzamento de rios. Examinando brevemente a evolução histórica deste percurso, pode-se identificar diversos ciclos de vida ou fases de transformação. Tendo em conta os limites deste artigo, limitar-nos-emos a fazer um breve foco sobre a última fase (a da desindustrialização) e levantar um ou dois pontos sobre os impactos que esta teve sobre as cidades. As consequências da pós-industrialização, que, por exemplo, algumas cidades com frente marítima tão bem conheceram nos idos anos de 1970, tornaram as chamadas waterfronts espaços desertos marcados pelo abandono e pelo esventramento. As actividades portuárias e marítimas, durante muito tempo o coração da actividade humana dos portos, foram sendo progressivamente abandonadas em função do declínio económico que atingiu todo o modelo assente no princípio de ?produção fordista?. Daí à eminente desafectação e à rápida desvalorização destes espaços, foi só um breve passo. Actualmente o interesse por estes locais é todavia bastante diferente. Surgem projectos um pouco por todas as cidades que têm frentes de água. Projectos de desenvolvimento urbano e relançamento económico, baseados numa linha de favorecimento e de redescoberta dos valores associados às frentes fluviais. A acessibilidade física e visual com a água e a manutenção, promoção e valorização do património industrial edificado nestas frentes passam a ser um factor positivo da maior importância para a renovação das margens fluviais urbanas, devolvendo à cidade parte dos seus espaços públicos azuis. Vocações desta natureza podem por exemplo ser constadas nas cidades ribeirinhas portuguesas. A edificação da EXPO 98, na frente ribeirinha do Tejo a oriente de Lisboa é um exemplo desta nova tendência. Um outro exemplo, são os projectos contemplados pelo programa POLIS, para várias cidades com frentes de água que prevê entre, várias intervenções, a revitalização de parte da frente fluvial da cidade. Mas a devolução à cidade de mais azul, não passa única e exclusivamente pelas frentes ribeirinhas. Para ela também estão a contribuir muitas das obras que são desenhadas para os grandes parques locais e metropolitanos, para as avenidas, para as praças, ou para os projectos de habitação. Com elas também se propõe agora aumentar os espaços azuis. A ideia de mais azul na cidade supõe o ordenamento aquático que passa pela abertura de novas janelas sobre as frentes de água. Em suma, ela contempla a necessidade de mais ?natureza azul? na trama urbana e confirma a procura social quanto à utilização recreativa dos espaços de água como espaços públicos abertos, quer para os utilizadores locais, quer para os turistas que aí encontram um lugar de fuga não habitual.
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