Paula Sequeiros,
professora no curso de especialização em Ciências Documentais da Universidade
Portucalense, Porto
Como é que estamos em termos de rede pública de bibliotecas?
O nosso país é muito carenciado nessa área. Veja-se o grande êxito que teve a abertura da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto. As carências eram tantas que praticamente bastou abrirem-se as portas e saber-se que havia alí um sítio bom de leitura, com umas instalações lindíssimas, para as salas estarem sempre lotadas. É curioso que no século XIX havia no Porto uma rede de bibliotecas populares, mas actualmente não temos nada equivalente a isso. Aliás, um dos últimos vestígios dessa rede é aquela biblioteca pequenina que existe no jardim do Marquês do Pombal, que agora está em vias de encerrar por causa das obras do Metro. Para uma cidade tão grande como o Porto é pouco só ter uma biblioteca numa zona mais oriental (Biblioteca Municipal do Porto) e outra numa zona mais ocidental (Biblioteca Almeida Garrett). Eu até costumo dizer aos meus alunos que um dos grandes atractivos desta área é que há imenso por fazer.
Daí a criação de licenciaturas em Ciências da Informação
/ Documentação...
É um facto que as necessidades destes técnicos são já muito grandes, ainda assim era importantíssimo que o Ministério da Educação levasse a sério a questão das bibliotecas escolares. As bibliotecas das escolas secundárias ainda não têm bibliotecários. Quando muito têm professores que recebem alguma formação, ou auxíliares de acção educativa. Mas uma biblioteca não é um armário com livros!
Como vê a relação dos alunos com as bibliotecas?
Eu já trabalhei em várias bibliotecas universitárias e os alunos entram lá pela primeira vez sem saberem que na procura de um autor o nome tem de ser invertido. Nos países anglo-saxónicos os alunos começam a ir às bibliotecas para fazer investigação a partir da escola primária. A biblioteca é uma coisa habitual. Até é habitual as donas de casa irem lá buscar receitas. Mas em Portugal existem muitos licenciados que saem dos cursos sem nunca terem entrado numa biblioteca.
A ida à biblioteca ainda é muito estigmatizada?
Sim. E ainda existe aquela prática medievalista que consiste
em pôr os alunos de castigo na biblioteca. Uma das guerras que os bibliotecários
têm de travar é a chamada descolarização do livro: associar o livro ao prazer
e não ao estudo.
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