Ele é o cinema português. Duas notícias da imprensa internacional sobre o dito. 1ª. "Sight and Sound" Fevereiro/2000. Título "Hips, bones and babies" assinado por Jonathan Romney. "Geográfica e cinematograficamente, Portugal está no extremo da Europa. Se o cinema português é conhecido fora das fronteiras do seu país, é olhado - com um misto de desconfiança, cepticismo e por vezes respeito - como um atalho exótico e algo cerebral da produção europeia. O cinema português não é praticamente distribuído no Reino Unido, mas existe e constitui uma obra arriscada e inspirada que pouco fica a dever à moda internacional. O cinema internacional, no entanto, deve muito a Portugal. Realizadores como Wim Wenders, Alain Tanner e Raul Ruiz estão entre os que homenagearam a sua geografia e mitologia. O programa "Sea changes" no "Ciné Lumière" de Londres vai apresentar uma selecção da recente produção portuguesa. O filme de abertura é o último do mais conhecido autor português, o nonagenário Manoel de Oliveira, que começou a sua carreira no final do cinema mudo e continua a trabalhar cada vez mais audaciosamente e a ser formalmente mais inovador do que a maioria dos realizadores com um quarto da sua idade. "A Carta" é uma adaptação idiossincrática do romance "La Princesse de Clèves" de Madame Lafayette, acerca de uma jovem que tem uma paixão inaceitável por - nesta versão moderna - um cantor rock Pedro Abrunhosa. Frágil e sardónico o filme é uma meditação de uma inteligência austera sobre os costumes, literatura e coincidência, com uma fabulosamente equilibrada interpretação de Chiara Mastroianni. Outros realizadores apresentados são João Botelho (que dirigiu uma adaptação expressionista de Dickens "Tempos Difíceis") com o seu último filme "Tráfico" e João César Monteiro, cujo tipicamente bizarro "Le Bassin de J. W." mistura uma encenação de Strindberg com uma leitura representada e um enredo envolvendo uma demanda da busca de John Wayne no Polo Norte. O esquelético e libidinoso Monteiro é um dos selvagens do cinema mundial e este filme testa os seus admiradores, mas pode dizer-se seguramente, que é algo que vocês nunca viram. Entre os outros trabalhos há ainda um outro tipo de cinema mais realista dirigido por Teresa Vilaverde com "Os Mutantes", uma história dura sobre os lares para os Sem-Abrigo adolescentes de Lisboa, e "O Mal" de Alberto Seixas Santos, um conto sobre Sida e toxicodependência que vai ser estreado comercialmente no U.K. . Mas se há algo imperdível nesta mostra - além dos outros - é um filme que mistura um realismo duríssimo com invenção formal - "Ossos" de Pedro Costa. Uma história Bressoniana de uma Lisboa jovem e pobre. O filme de Pedro Costa exibe um olhar de escultor desapaixonado sobre a face humana, na sua expressão mais enraivecida enquanto a sua empatia pelas suas personagens o aproxima do grande cinema humanista do passado. A sequência, filmada como um documentário, na qual um jovem tenta entregar um bébé aos que passam numa movimentada praça de Lisboa, é um momento inesquecível da história do Cinema. 2ª. A lista dos dez melhores filmes de 99 para a redacção dos "Cahiers du Cinéma" Fevereiro/2000: 1º "Eyes wide shut" - Stanley Kubrick 2º "Le vent nous emportera" - Abbas Kiarostami 3º "Sicilia" - Jean Marie Straub e Danielle Huillet 4º "eXistenz" - David Cronemberg 5º "Le vent de la nuit" - Philippe Garrel 6º "True crime" - Clint Eastwood 7º "A Carta" - Manoel de Oliveira 8º "The Straight Story" - David Lynch 9º "Ghost dog" - Jim Jarmusch 10º "As Bodas de Deus" - João César Monteiro Conclusão: 4 filmes de realizadores americanos 1 filme de realizador iraniano 1 filme de realizador canadiano 1 filme de realizador alemão 1 filme de realizador francês 2 filmes de realizadores portugueses. E esta, ah ????!!! Nota: o número referido dos "Cahiers..." tem um suplemento de homenagem a Robert Bresson. A não perder. Paulo Teixeira de Sousa Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis
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