Neste final de ano tive duas prendas do outro lado do mundo. Prendas que gostaria de partilhar convosco. Uma veio dos "States" e veio de um realizador. Hal Hartley de seu nome: "Quando falamos de cinema, fazemos referência ao público e ao seu desejo de se aventurar - ou não - para além daquilo que vê habitualmente. Sem esta curiosidade essencial, já não há "cinema", mas um supermercado... Se o público parar de reinventar o cinema permanentemente, encontrar-nos-emos a fazer filmes que ninguém verá". A outra veio do Irão, de Abbas Kiarostami, a propósito do seu último filme "O Vento Nos Levará": "Vivendo no Irão, sou influenciado pelo que se passa à minha volta. Sou um cidadão iraniano, foi o governo Iraniano que me deu o passaporte. No Irão, acusam-me de fazer filmes para festivais estrangeiros. Faço filmes para seres humanos. Os meus filmes não têm uma geografia precisa, tocam o humano, onde ele se encontra. Um filme é como uma árvore, não tem passaporte. Não acredito num Cinema que dê ao espectador apenas uma versão da realidade. Prefiro várias interpretações precisas, para deixar ao espectador a liberdade de escolher. Aconteceu-me encontrar espectador que tinham imaginação suficiente para ultrapassar aquela que eu pus nos meus filmes. Gosto do cinema que deixa os espectadores livres de o interpretar como se o filme fosse seu. Por exemplo, alguém interpretou um plano do meu último filme evocando o mito Sísifo: é um plano onde se vê um escaravelho a empurrar uma bola. Esta visão supõe que se conhece o mito de Sísifo. Um filme é conseguido se permite várias interpretações diferentes". Aqui estão as prendas. Espero que as fruam pelo menos tanto como eu. Bom 2000 e bons filmes! Paulo Teixeira de Sousa Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis
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