19H30m do dia 22 de Outubro de 1950 - Christal Room do Berverly Hills Hotel - Assembleia Geral da Screen Directors Guild, o Sindicato dos Realizadores Americanos, convocada por iniciativa de Joseph L. Mankiewicz, presidente do Sindicato desde 31 de Maio de 1950. A Assembleia devia pronunciar-se sobre um juramento que se pode resumir nestes termos: "ninguém pode ser autorizado a ser sócio do Screen Directors Guild se tiver sido comunista, e se a sua lealdade para com os Estados Unidos da América pode ser posta em causa". A manobra que levou a este juramento inscreve-se na campanha contra "as actividades anti-americanas" do senador McCarthy. O seu instigador foi Cecil B. DeMille, que dirigia o Conselho de Administração da Guild, composto essencialmente por veteranos - John Ford, Frank Capra, Clarence Brown, Leo McCarey - e que controlovam inteiramente o Sindicato. DeMille aproveitou uma viagem de Mankiewicz à Europa para tentar este golpe de força e obter a destituição de um presidente que não detinha qualquer poder real, mas de quem pensa ter opiniões políticas opostas às suas. Mankiewicz descobriu a conspiração à sua chegada a Nova Iorque. Como todos os responsáveis de Sindicatos dos Estados Unidos, Mankiewicz teve de assinar o juramento em virtude do decreto Taft-Harley. Enquanto presidente do Sindicato, era obrigado a submeter-se a uma lei com a qual não estava de acordo mas queria evitar que simples cidadãos, realizadores de cinema ou não, a tal fossem obrigados. Várias reuniões com DeMille e o Conselho de Administração falharam, a Assembleia Geral de 22 de Outubro representava a sua última oportunidade. Cerca de 600 cineastas compareceram. "É-me impossível nomear alguém que não tenha estado presente" lembrou mais tarde Mankiewicz. DeMille começou por ler a lista de vinte e cinco jovens realizadores - Mankiewicz, Losey, Kazan, George Stevens, Billy Wilder, William Wyller, etc. - que se lhe opunham: "Vejamos" - disse - "os nomes dos que querem impedir-nos de cumprir o nosso dever de Americanos, os vinte e cinco que se opõem à vontade da maioria: Mr. Villiam Vyller, Mr. Zssinnemann, Mr. Billy Vilder...." Enquanto prosseguia, insistindo na proveniência judia de certos nomes, DeMille ouve uma parte da sala vaiá-lo. Delmer Daves levantou-se para exteriorizar a sua cólera. Depois Fritz Lang, para afirmar "pela primeira vez desde que me encontro na América, tenho medo, porque falo inglês com sotaque". Outros ainda, tentavam, muitas vezes com lágrimas nos olhos, convencer a Assembleia da necessidade de se opor à manobra de DeMille. "Eu sabia, que nessa noite" - contou Mankiewicz - "um homem podia fazer pender a sala para um lado ou para o outro. Esse homem estava lá, com os seus óculos escuros no chão, com boné e sapatilhas. Manuseava um lenço e fumava cachimbo. Ainda bem, que não bebia!". Pelas duas horas da manhã levantou a mão para pedir a palavra, e apresentou-se: "My name is John Ford and I make westerns" disse antes de se dirigir a DeMille: "Cecil, trabalhei contigo, e conheço-te desde 1916. Conheço-te melhor do que qualquer dos presentes. Fazes filmes que toda a gente adora e, por isso respeito-te". Depois, mudando o tom de voz: "Sim, respeito-te pela alegria que dás ao mundo inteiro com os teus filmes. But I don?t like you, não gosto de nada do que tens estado a defender nem do que representas. Joe (Mankiewicz) foi difamado. Proponho que tu e o Conselho de Administração se demitam para deixar esse polaco, esse republicano da Pensilvânia, à frente do Sindicato e que regressemos todos a casa". A proposta de John Ford foi aprovada imediatamente. Quatro dias depois, Mankiewicz pediu aos membros do Sindicato para assinar o juramento de lealdade "livremente, para evitar o desmantelamento da Guild". Saíra vencedor do seu combate com DeMille, mas "a caça às bruxas" só naquele momento começara. Paulo Teixeira de Sousa Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico Soares dos Reis
|