Respondem:
Paulo Teixeira de Sousa Professor de matemática Escola de Ensino Artístico Soares dos Reis "A escola pode ajudar, antes de tudo, a dar pistas aos alunos, a abrir-lhes janelas em relação àquilo que eles estão habituados a ver. Em termos culturais, a grande maioria dos alunos está habituado a pouco mais do que ver televisão ou a ler jornais desportivos - quando os lêem. Mas mesmo neste contexto a escola pode, ainda assim, ajudar os alunos a ver televisão ou a ler desporto com espírito crítico. Depois, se as escolas estivessem equipadas para isso, poderiam realizar sessões de cinema em ecrã gigante, por exemplo, que seriam comentadas pelos próprios professores ou por pessoas que fossem convidadas a fazê-lo. Mas não só: era importante conseguir levar os alunos ao cinema e ao teatro e discutir com eles o que tinham visto (essa experiência foi levada a cabo na minha escola). organizar visitas a exposições colectivas e a museus, de forma a que os professores pudessem, ao menos, tentar fazer-lhes ver as coisas de uma maneira diferente. Neste sentido, as escolas poderiam criar os seus próprios grupos de teatro ou dança, e dinamizar clubes de leitura, nomeadamente. O que até há pouco tempo ainda era possível, não tivesse o ministério da educação acabado com a redução de horário para os professores destacados para estas actividades". Franklin Pereira
Professor de Educação Visual e Tecnológica Escola Básica 2,3 de Tadim "Desde que saiba ser autónoma e não seja limitada pelo ministério da educação em termos de orçamento, a escola poderia utilizar dois canais específicos de TVcabo, o História e o Odisseia, com videos fabulosos que deveriam ser utilizados pedagogicamente em auditórios, com turmas até quinze alunos - as turmas com 25 e 30 alunos são uma dor de cabeça tanto para eles como para os professores. A escola deveria também recorrer a todas as artes performativas, antigas e actuais, o que obrigaria à criação de oficinas de artefactos que seriam usados nessas representações. A dança e o teatro são velhas formas de arte que deveriam ser utilizadas pedagogicamente para essas oficinas criativas, o que, inclusivamente, permitiria uma intervenção de carácter cívico que muito falta nas nossas escolas. Outra função cultural importante da escola passaria pela disponibilização de trabalho ligado à manutenção da terra e dos animais, tanto para os alunos como para os professores. Mas infelizmente o ME é um mero gabinete de gestão com muitos pedagogos, que não sabem incentivar os professores a realizar algo que não seja o "curriqueiro" dos programas oficiais". Fernando Santos
Professor de Filosofia Escola secundária de Valongo "A formação cultural dos alunos deve ser encarada pelos professores numa perspectiva educacional. A escola não pode apenas transmitir conhecimentos e avaliar essa aquisição de conhecimentos, isto é, deve existir uma avaliação global de atitudes e comportamentos. E essa avaliação deve estar prevista nas actividades regulares da escola. Por outro lado, entendo que se deve diversificar as formas de aprendizagem. A dança, o teatro e a música, por exemplo, são grandes lacunas na escola. Aliás, comparativamente com outros países europeus, os portugueses depreciam muito estas formas de expressão artística. O ensino, sobretudo o secundário, centralizou a aprendizagem no domínio intelectual e descurou muito o domínio da expressão, quer corporal quer criativa. O princípio "Mente sã em corpo são" tem todo o sentido aqui. Quando falamos com antigos alunos, por exemplo, eles recordam-se mais facilmente dos professores que lhes alteraram a rotina e tomaram iniciativas fora das actividades regulares. Ou seja, aquilo que mais os marcou foram as actividades complementares da escola. A questão orçamental é um factor que se pode contornar relativamente bem, desde o momento que não se queira fazer investimentos da ordem dos milhões. Com a boa vontade dos professores, alunos e pais é sempre possível arranjar contrapartidas". Jornal a Página da Educação nº 85 - Novembro de 1999, pg. 9
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