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A prática cultural do jongo e as tribos urbanas

O jongo é uma manifestação cultural das populações afro-descendentes de origem banto presentes no sudeste do Brasil. A idéia que se tem de sua origem é que ela foi criada por escravos nas fazendas de café da região do Vale do Paraíba para fins de socialização. Com o fim do período escravista no Brasil, muitos negros saíram das fazendas de café em direção à capital. Isso fez com que a manifestação fosse praticada em diferentes comunidades e regiões.
Os relatos de jongueiros antigos contam que, os negros recém-chegados à capital foram habitar regiões periféricas e que existia jongo em três comunidades cariocas, Mangueira, Salgueiro e Serrinha em Madureira.
A Serrinha é a única comunidade que mantém as tradições do jongo, muitos atribuem esse fato a organização social, como também a intervenção de muitos jongueiros que assumiram papel importante para a preservação da prática. O jongo praticado na Serrinha se diferencia por inúmeras particularidades.
Os jongueiros da Serrinha sempre conservaram características próprias que os legitimam a serem pertencentes daquele grupo. Uma das principais formas de serem reconhecidos pelo grupo, era ser capaz de "desatar o nó" lançado por outro jongueiro. Esta habilidade teria de ser exibida na roda perante todo o grupo, e nisso consistia uma das principais maneiras de conquistar respeito e acesso a todos os encontros.
Uma maneira que se tem de entender como se deu esse processo de formação identitária e de formação de grupo, é analisando as cantigas de jongo. Esta análise nos proporciona fazer uma interpretação do cotidiano e uma observação da ação do sujeito que é composta de um significado, gerando uma conseqüência que é a produção cultural.
Hoje o contexto em que a prática cultural e que os sujeitos praticantes se encontram é bem diferente daquela que poderíamos chamar "das origens do jongo". Mesmo quando pensamos na prática de caráter urbano, podemos perceber que o jongo não é o mesmo que aquele apresentado há algumas décadas atrás. A manifestação está presente em diferentes pontos da cidade; o próprio grupo de jongueiros da Serrinha é bastante híbrido, composto por crianças, jovens e adultos que se dedicam aos ensaios, às aulas de jongo, dança afro, percussão, entre outras atividades que são exercidas no Centro Cultural, que fica localizado no alto da comunidade.
A prática da manifestação cultural hoje na cidade do Rio de Janeiro é bem disseminada, através de estudos em universidades, aulas em escolas, centros sociais e também por uma grande tribo urbana que é adepta das tradições do jongo. Os sujeitos que compõem este grupo costumam se encontrar todas as últimas quintas feiras do mês, na Lapa, localizada na região central da cidade, região que é conhecida por ser um reduto da boemia carioca. Lá essa tribo divide espaço com outros grupos urbanos e outras práticas culturais afro-descendentes, como a capoeira, samba, reggae e o hip- hop.
É neste cenário plural que acontece a prática do jongo, a preservação e atualização da manifestação popular, por parte dos praticantes.

REFERÊNCIAS

  • AGIER, Michel. Distúrbios identitários em tempos de globalização
  • BERGER, Peter L. Perspectivas sociológicas:Uma visão humanística. Petrópolis, RJ:Editora Vozes, 1986. 
  • PASSOS, M. C. O jongo, o jogo, a ONG - um estudo etnográfico sobre a transmissão da prática do jongo em dois grupos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Departamento de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio (Tese de Doutorado) 


Colaboração: Página da educação/Educação e imagem (http://www.lab-eduimagem.pro.br/jornal/)

Luiz Júnior Rufino Rodrigues


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

Luiz Júnior Rufino Rodrigues
Graduando em Pedagogia da UERJ, Bolsisita FAPERJ de Iniciação Científica, orientado pela Professora Doutora Mailsa Carla Pinto Passos, membro do Grupo de Pesquisa
Luiz Júnior Rufino Rodrigues
Graduando em Pedagogia da UERJ, Bolsisita FAPERJ de Iniciação Científica, orientado pela Professora Doutora Mailsa Carla Pinto Passos, membro do Grupo de Pesquisa

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