Na sua bagagem de poeta, António Augusto Menano levou há vários anos para Macau e outras paragens, ainda no rasto de outras gentes ligadas às letras (Camões, Fernão Mendes Pinto, Wenceslau de Moraes ou Camilo Pessanha, para lembrarmos os "casos" mais ligados ao fascínio pelas terras do Oriente), a vontade de então descobrir nas diferentes paragens macaenses ainda sob a bandeira portuguesa os mesmos afectos ou uma outra memória das coisas que determinou o sentido de uma "poética" de clara intervenção e combate no domínio da poesia que nos anos 60 distinguiram certos movimentos poéticos e literários. Mas a capacidade de detectar o sentido oculto ou menos conhecido dos lugares e pessoas, nas paragens orientais que lhe eram estranhas, acabou por dar origem a alguns dos seus últimos livros, sobretudo em "Poemas do Oriente" ou nestes "Poemas de Macau" pela sua profunda e coerente expressividade. E, apesar da relembrada "lição" de Pessanha, como sombra tutelar que uma vez mais atravessa este livro, não deixamos de acentuar que, no acto de transfigurar experiências e emoções que se renovam no seu percurso, António Menano alcança uma intensidade poética e uma envolvência que, não sendo apenas imagínística, se revela como ponto de confluência entre o acto de ver, olhar e sentir, reflectir e comover: "Estás aqui a sentir o mundo / no centro da terra onde as estrelas dormem", ou ainda claramente em "Poemas da Taipa":
Da janela do meu quarto vejo crescer um edifício rosa pálida. Sapatos chibeses neste tempo que mastiga, rápido, a língua de Camões.
É evidente que a permanência nas terras de Macau entre 1988 e 1992, permitiu que António Augusto Menano enfiasse na bagagem de viajante solitário muitos dos sonhos que ao longo dos anos adiara: o de dispor de tempo para escrever e publicar com outra regularidade. Mas essa estada em Macau tem sido repetida no fio dos últimos anos em viagens que se sucedem a pretexto de visitar filhos e netos que por lá permanecem e ao mesmo tempo como forma de revisitar pessoas e lugares. Por isso, tudo serve para reforçar a memória e o fascínio das terras de Macau, hoje sob a bandeira chinesa, e observar sob outros olhares o que mudou nas relações sociais e culturais entre as gentes que ali vivem. E assim a memória se levanta como pano de fundo em que diferentes emoções ou sentimentos se cruzam na distância do tempo e dos anos, mas sempre no claro fascínio do poeta pelas paragens orientais ou ainda na consciência do que se alterou, como neste último e breve poema do livro:
Os canhões enferrujaram A pólvora já não defende Portas abertas pelo tempo. António Augusto Menano POEMAD DE MACAU Ed. Kiwanis Clube
Serafim Ferreira
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