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Estar ou não em "coup d'éclat" permanente
Os socialistas franceses, ou, pelo menos, François Hollande, acusam Nicolas Sarkozy de estar a fazer da presidência francesa um espectáculo de permanentes e vistosas habilidades ("coup d'éclat permanent"), cada qual a melhor e cada qual a tentar ofuscar a anterior.
A mais recente manifestação desta variante da política espectáculo terá ocorrido na recente e pouco diplomática ostentação de um inacreditável protagonismo francês, que alguns contestam, no caso da libertação das enfermeiras e do médico búlgaros condenados pela Líbia.
O próprio ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Amado, veio a público reclamar alguma quota-parte no desfecho do caso criado pela condenação, na Líbia, de cidadãos búlgaros que sempre reclamaram inocência.
A França está também na primeira linha de visibilidade no que respeita ao problema do Darfour e é um dos três países responsáveis (ao lado do Reino Unido e dos Estados Unidos) pelo mais recente projecto de resolução sobre esta matéria entrado no Conselho de Segurança da ONU.
Preconiza-se agora o envio, no início de 2008, de uma força mista (União Africana e Capacetes Azuis) com autorização para usar a força na tarefa de impor a paz, em termos que o Sudão ainda considera inaceitáveis.
Este conflito ? recorde-se ? causou nos últimos quatro anos mais de 200 000 mortos e mais de dois milhões de refugiados. Numa outra latitude, Georges W. Bush voltou a autorizar a CIA a interrogar suspeitos de actos terroristas em prisões secretas, fazendo questão de enumerar algumas torturas e actos humilhantes que deixarão de continuar a poder ser utilizados nos interrogatórios em causa.
Registe-se que os militares norte-americanos estão a elaborar um plano de retirada do Iraque que prevê a manutenção de tropas até ao Verão de 2009. Actualmente, os Estados Unidos mantém no terreno 160 000 militares numa operação que não está a resultar como se desejaria, nomeadamente no que respeita à pacificação e à segurança no Iraque, sem dúvida um país ainda sem grandes perspectivas turísticas.
Ao contrário do que acontecerá em França, a actuação política de George W. Bush no Iraque está longe de poder ser considerada um "coup d'éclat permanent". É muito pouco vistosa, ainda menos hábil e nada diplomática.

  
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Edição:

N.º 170
Ano 16, Agosto/Setembro 2007

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

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