Após a destruição da Biblioteca de Alexandria, muitas têm sido as tentativas de construir uma "biblioteca universal", que Bernad Shaw, em "César e Cleópatra", designa como a memória da humanidade. O seu acervo seriam todos os livros e manuscritos que a humanidade tivesse entretanto produzido e viesse a produzir no futuro. Tal propósito ciclópico não chegou, naturalmente, a concretizar-se por razões óbvias. Com o desenvolvimento tecnológico, nomeadamente com o aparecimento da Internet, a constituição de uma "biblioteca universal" ganhou um novo e (talvez) definitivo impulso. Uma ideia baseada na interligação entre todos os arquivos e bibliotecas digitais. É este o desafio que se coloca actualmente a todos os gestores de informação. Se será vencido, só o futuro o dirá!
Biblioteca Universal: a memória da humanidade
A propósito dos perigos que ameaçam as bibliotecas actualmente, resultantes essencialmente dos custos crescentes com o espaço e o pessoal, Marianne Gaunt, bibliotecária da Rutgers University Libraries, afirma explicitamente que as bibliotecas "as we know them are no longer possible to sustain"[como sabemos, já não são sustentáveis], uma opinião unanimemente partilhada pelos profissionais do sector. Não só o custo da informação, tanto impressa, como digital, tem vindo a aumentar sistematicamente, mas também a quantidade de informação regista um crescimento exponencial, exigindo, naturalmente, novos modelos de desenvolvimento das bibliotecas. As oportunidades entretanto surgidas com os recentes canais de comunicação electrónica para acelerar, disseminar e facilitar o acesso à informação não encontraram, ainda, resposta na redução antecipada dos custos de distribuição. Pelo contrário, a grande maioria dos editores têm vindo a colocar os seus produtos electrónicos a preços claramente excessivos, por forma a aumentarem as suas margens de lucros relativamente aos materiais impressos, causando, assim, evidentes constrangimentos aos já limitados orçamentos das bibliotecas. Acresce a tudo isto a necessidade de continuamente substituir, actualizar e melhorar toda a infra-estrutura das bibliotecas de forma a dotá-la dos meios necessários à utilização de conteúdos multimédia cada vez mais sofisticados. A conversão para formato digital surge, então, como a única solução possível, ainda que seja, por isso, um conceito nascido do desespero, mas com vantagens óbvias também em termos da preservação e do acesso à informação. Num estudo publicado pela University of Michigan Press, foi demonstrado irrefutavelmente a redução de custos associada à publicação electrónica de um jornal comparativamente com a sua publicação impressa. Dois factos de grande relevância têm, ainda assim, de ser salientados em todo este processo:
- A dificuldade em reproduzir importantes características próprias dos documentos ( e.g. papel vs pergaminho);
- Nem todas as cópias de livros impressos antes de 1900 são idênticas.
Daí que às bibliotecas se coloque, actualmente, um duplo desafio: por um lado, preservar os documentos herdados do passado, a memória da humanidade; por outro lado, integrar uma rede de documentos digitais disponíveis em qualquer parte e a qualquer hora. O que poderá ser um fardo insuportável. Insuportável porque representa um investimento imprevisível em termos de tempo e de recursos. Insuportável, também, porque não existem ainda procedimentos de catalogação normalizados para as conversões digitais. Insuportável, ainda, porque não é admissível que sejam as bibliotecas a assumir a responsabilidade de toda a produção digital. Nos tempos mais próximos não deixaremos, certamente, de observar um crescimento dos números relativos quer às publicações electrónicas, quer ao material impresso e as bibliotecas continuarão, seguramente, a desenvolver e a tratar colecções crescentes de livros, jornais e outros materiais, muitos dos quais não estarão disponíveis em formato digital.
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