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Dez anos sem Paulo Freire cidadão do Brasil e do mundo
Em 19 de Setembro de 1921 nascia em Recife, Paulo Reglus Neves Freire. Sua infância foi marcada por dificuldades financeiras, de forma que segundo ele mesmo revelou, fez a escola primária exatamente no período mais duro da fome. Não da fome intensa, mas de uma fome suficiente para atrapalhar o aprendizado. Começou a leitura da palavra, orientado pela mãe, escrevendo palavras com gravetos das mangueiras, à sombra delas, no chão do quintal da casa onde nasceu. Fez toda sua formação escolar nos municípios de Jaboatão e Recife - Pernambuco, obtendo em 1959 o título de Doutor em Filosofia e História da Educação, defendendo a tese "Educação e Atualidade Brasileira", pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Recife.
Firmou-se como educador progressista, através da autoria do Relatório apresentado no II Congresso Nacional de Educação de Adultos, realizado em Julho de 1958, no Rio de Janeiro, intitulado: "A Educação de Adultos e as Populações Marginais: O Problema dos Mocambos". As idéias contidas no relatório tornaram-se, indubitavelmente, um marco na compreensão pedagógica da época, um divisor de águas entre uma educação neutra, alienante e universalizante e uma educação essencialmente radicada no cotidiano político-existencial dos alfabetizandos e alfabetizandas, não se reduzindo a ele, obviamente.
Extrapolando a área acadêmica e institucional Paulo Freire engajou-se nos movimentos de educação popular no início dos anos 1960. Foi um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, e nele trabalhou, ao lado de outros intelectuais e do povo, no sentido de através da valorização da cultura popular, contribuir para a presença participativa das massas populares na sociedade brasileira.
Por suas concepções de educador popular progressista influenciou a campanha "De Pé no Chão Também se Aprende a Ler", realizada com sucesso no Rio Grande do Norte. Ao organizar e dirigir a campanha de alfabetização de Angicos, também no Rio Grande do Norte, ficou mais conhecido nacionalmente como educador voltado para as questões do povo.
Com o golpe militar de Abril de 1964, Freire foi preso por 75 dias acusado de "subversivo e ignorante". Seguiu-se o exílio, onde por 15 anos, peregrinou por todos os continentes, levando suas idéias e experiências em alfabetização e educação popular. Volta para o Brasil em fins de 1979, trazendo na bagagem: a maturidade de quem andarilhou pelo mundo; o desejo de reaprender o seu país; e o compromisso político-pedagógico de dedicar-se às reflexões e à produção acadêmica no sentido de contribuir para uma intervenção mais efetiva e profunda na educação, no sentido de dar continuidade à busca pela utopia de uma sociedade mais justa e menos desigual.
Seu pensamento, produção teórica e prática pedagógica, portanto, têm um caminhar bastante dialético, acompanha a sua própria história de vida, marcada pela convivência com as contradições, com as dualidades e com a luta pela sobrevivência, mas, sobretudo, pela "amorosidade" e pela "paixão de aprender o mundo" e "transformá-lo".
Em 02 de Maio de 1997, Paulo Freire pára de pensar e sua voz se cala para sempre. Deixa o mundo, mas suas idéias e seu exemplo ficam, porque ele propiciou ao Brasil e ao mundo, um legado teórico-prático incomensurável, levando-nos a repetir o que escreveu Carlos Alberto Torres(1)[1] "... há boas razões pelas quais, na pedagogia da atualidade, podemos ficar com Freire ou contra Freire, mas não sem Freire". Não ficaremos sem ele jamais. Podemos afirmar com segurança que a História da Educação Popular Brasileira e particularmente a História da Educação e da Alfabetização de Adultos no Brasil e em vários países do mundo possui duas fases: antes e depois da Pedagogia Libertadora de Freire.

1) Carlos Alberto Torres, In: Paulo Freire: uma Biobibliografia. Moacir Gadotti (org.). Vozes: São Paulo, 1996.

  
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Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Tânia Maria de Melo Moura
Univ. Federal de Alagoas, Brasil. Grupo de Pesquisa Teorias e Práticas em Educação de Jovens e Adultos.
Tânia Maria de Melo Moura
Univ. Federal de Alagoas, Brasil. Grupo de Pesquisa Teorias e Práticas em Educação de Jovens e Adultos.

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