Depois de Sporá e de O Cavaleiro Azul, Pedro Baptista reincide nos caminhos da ficção com um livro de histórias de pessoas e animais, mas sem o brilho literário, tanto no ritmo de contar como na qualidade da escrita, patente nos livros anteriores. De facto, trata-se de um conjunto de ficções ou contos em que o imaginário e os lugares de divagação pelo Porto que conhece de sobra se desdobram em histórias (ou memórias de pessoas e lugares que se cruzaram no seu caminho e a vida lhe fez conhecer nos aspectos mais singulares ou mesmo anedóticos. Mas nesta galeria em que Pedro Baptista faz desfilar as suas histórias captam-se apenas os aspectos mais ridículos ou menos aceitáveis para se entender que a verosimilhança ficciona não é alcançada, mesmo que narrada pelo Dr. Domingos Pintado, talvez o "alter ego" do próprio Autor. Não se entende de modo razoável que todas as histórias nos revelem figures de alguma forma humanizadas, ou recriadas pela ironia posta na definição dos contornos mais relevantes, mas o arrastar da sua escrita ou a forma repetitiva e excessiva de narrar, afirmando mais do que sugerindo no processo narrativo que devia ser mais imediato e não redundante como se revela em muitas das histórias, faz diminuir o sentido construtivo e literário que nos primeiros livros (e sobretudo em O Cavaleiro Azul)) se apresentavam como qualidades mais criativas da sua prosa de ficção. Podemos dizer ou repetir que Pedro Baptista recorre quase sempre à memória para evocar histórias, figuras e lugares de um Porto sentido e nas páginas destas ficções soltas e marcadas por uma subtil ironia recupera um tempo que foi de ontem e ainda é de hoje, porque a cidade não mudou muito nos seus "clichés" mais típicos ou nas situações vividas com alguma intenção de mal-dizer ou brincar com as arrelias da vida, seja na evocação de pessoas e animais como "o Burro do Marquês"" ou em "Querido Eça", que parecem ser, a par ainda de "O Cinéfilo" ou "Santos da Casa" talvez as melhores histórias deste livro em que o autor de O Cavaleiro Azul volta a retomar de modo singular um tempo portuense perdido ou redescoberto pela memória, usando e abusando de uma certa ironia narrativa que lhe confere uma visão pessoal do Porto de tantas histórias e lugares de fascínio ou de espanto ou ainda de claras e evidentes referências literárias.
Pedro Baptista PESSOAS, ANIMAIS E OUTROS QUE TAIS Ed. Campo das Letras ? Porto, 2996
|