Enquanto professores não nos revemos nas palavras da senhora ministra. Achamos que à senhora ministra falta, em primeiro lugar, a vivência profissional dos ensino básico e secundário e, depois, o conhecimento das diferentes realidades das nossas escolas. Num primeiro momento temos que motivar, cativar, trazer para nós aqueles que podem dar a volta à situação difícil em que nos encontramos. O que a senhora ministra fez foi colocar-se contra os professores e acusá-los de serem ?o cancro? que mina e causa tudo o que de mal se passa na Educação em Portugal. Podemos confidenciar-lhe senhora ministra que não é por corporativismo ou por pertencer à oposição que lhe dirigimos esta missiva; mas enquanto profissionais da educação. Sabemos que no sistema educativo, como em todos os sectores profissionais, existem bons e maus profissionais, mas meter todos no mesmo saco, revela no mínimo falta de bom senso e de respeito por aqueles que, ao longo dos anos da sua profissão, deram tudo à educação. Não nos consideramos profissionais ideais, mas trabalhamos com afinco, profissionalismo, espírito de sacrifício durante muitos anos. Não cumprimos as 35 horas semanais, muitas semanas preencheram mais de 50 ou 60 horas da nossa semana e sem quaisquer tipo de contrapartidas! O que se exigia senhora ministra era que reconhecesse que há quem trabalha em prol de uma Escola de sucesso. Comparou-nos aos médicos como se os médicos fossem comparação para alguém. Conhecemos bons médicos, óptimos profissionais; mas também conhecemos médicos medíocres, que humana e profissionalmente nada valem! Se conhecesse a realidade, senhora ministra, saberia reconhecer a diferença entre os bons e maus profissionais da Educação e não os culpava por tudo o que de mau se passa na Educação. Se pensasse em reformar todo o sistema desde o pré-escolar até ao ensino Superior, em vez de ?reformas avulsas?, talvez determinados ?lobbies? desaparecessem e talvez a Escola e a Educação fossem diferentes. Se pensasse em educar a sociedade, determinados pais com filhos nas escolas, onde as famílias não existem ou estão completamente desestruturadas, talvez as Escolas, dizemos os professores, em vez de fazer de pais, de amigos, de psicólogos, se pudessem dedicar à tarefa de ensinar. Não somos contra uma avaliação rigorosa, mas porque é que não propõe também aos seus homólogos senhores Ministro da Saúde para colocar os pacientes a avaliar os médicos, Ministro da Justiça para colocar os arguidos a avaliar os magistrados, por exemplo. Senhora ministra, muita coisa há a mudar na Educação, mas como a caridade bem ordenada começa por nós mesmos, a maior parte dos professores, nos quais nos incluímos, mereciam mais respeito. Orgulhamo-nos de pertencer a uma Escola, que apesar de ser pequena e não andar na boca dos média, foi capaz de trilhar o seu próprio caminho. Desde o projecto de educação pré-escolar itinerante, programas PEPT e Alfa, projecto de gestão flexível, passando por programas da Inspecção-Geral de Educação como as Avaliações Integradas e Sequências e programa de Aferição de Auto - Avaliação das Escolas, já deu provas de termos uma Escola que trabalha para que o sucesso educativo dos alunos seja uma realidade. Orgulhamo-nos de pertencer a uma equipa de professores que, na maior parte dos casos e devido à grande mobilidade, apenas ficam durante um ano lectivo, não se poupam a esforços para cumprirem os desígnios da Escola e colocarem em prática o Projecto Educativo da mesma. A esses, senhora ministra, agradecemos porque fazem e fizeram um trabalho de excelência e nada poderá colocar em causa o seu profissionalismo. Conhece, certamente, senhora ministra, os números do abandono escolar nesta Escola e a sua taxa de sucesso! Abandonos não existem há cerca de uma década e a taxa de sucesso situa-se há vários anos entre 92 e 94 por cento. Por isso repudiamos, senhora ministra, as suas palavras, a sua atitude e sobretudo a falta de bom senso na abordagem e na penalização que faz a toda a classe docente. ? Um bom começo vale para toda a vida. Mas quem começa mal, tarde ou nunca se endireita?. Parece-nos que a primeira se aplica aos professores em relação aos seus alunos e a segunda à senhora ministra em relação aos professores. Sabendo que na política é necessária muita coragem para reformar, não podemos aceitar uma proposta de Estatuto da Carreira Docente tão injusta como esta. Servimos durante décadas para sermos professores, delegados de grupo, directores de turma, coordenadores de departamento, presidentes dos conselhos pedagógicos e dos conselhos directivos e executivos, directores dos centros de formação?. Servimos para ser pedagogos, pais, irmãos, psicólogos?. E de um momento para o outro já não somos competentes, já não servimos para nada! Onde pára o slogan ? As pessoas primeiro?? Com respeito
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