Associações feministas e um sector da esquerda americana denunciam a "guerra contra a contracepção" da administração George W. Bush e de grupos religiosos conservadores, que pensam já ter ganho a batalha contra o direito ao aborto. Embora nunca tenha sido declarada oficialmente, esta «guerra» assumiu diferentes formas: do bloqueio à venda livre nas farmácias da «pílula do dia seguinte» à promoção da abstinência como único método anticoncepcional, passando pela tentativa de agregar à lei cláusulas de consciência que permitam aos farmacêuticos negar-se a vender anticoncepcionais. Nenhuma associação conservadora tomou abertamente uma posição oficial contra os anticoncepcionais, temendo despertar a ira das mulheres americanas que tomam a pílula. "Não acho que haja uma guerra contra a anticoncepção", disse à AFP a porta-voz da associação conservadora «Focus on the Family», Carrie Gordon-Earll. No entanto, as feministas respondem que os factos apontam para o contrário. Bush nomeou uma militante contra o aborto para a chefia do organismo social encarregado da contracepção para mulheres de baixos rendimentos. Além disso, mencionam a recusa inexplicada da agência federal que regula alimentos e medicamentos no país (FDA) em autorizar a venda livre da «pílula do dia seguinte» e das campanhas para impedir que as seguradoras assumam os custos da pílula. Destacam, inclusivamente, que sob a capa da luta contra o aborto ou gravidez na adolescência, as campanhas oficiais dão destaque aos "perigos" da contracepção. Por exemplo, o site de uma das principais associações conservadoras, «Concerned Women for América», qualifica o DIU (dispositivo intra-uterino) de «contraceptivo abortivo», embora não tenha sido provado por médicos. Os estados de Arkansas, Geórgia, Mississipi e Dakota do Sul, votaram leis que permitem aos farmacêuticos recusarem vender a pílula. "Aqui não é a 'eleição' [ao direito do aborto] que é atacada, é a contracepção", resumiu na terça-feira, em Washington, Hillary Clinton, senadora por Nova York e possível candidata democrata à Casa Branca. Depois de terem combatido o aborto, "os militantes do 'direito à vida' deram um passo adicional" contra os contraceptivos, declarou à AFP Cristina Page, da associação feminista Naral. "Ganharam tão amplamente a guerra contra o aborto, que já não esperam que um juiz do Supremo de 86 anos se retire", acrescentou. Se o presidente Bush nomear um terceiro juiz conservador (de um total de nove juízes vitalícios), o novo equilíbrio do Tribunal poderia levar a por em causa o direito ao aborto, que data de 1973. "Várias vezes me surpreendi ao encontrar legisladores no Congresso que apoiam firmemente os anticoncepcionais, mas que acreditam que a «pílula do dia seguinte» equivale a um aborto", declarou à AFP Lara Foley, professora de Sociologia da Universidade de Tulsa (Oklahoma, sul).
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