Os investigadores (...) debateram três facetas relacionadas com o facto de 50 milhões de jovens europeus estarem conectados online: ?O que fazem eles? O que fazemos nós? O que é necessário fazer?? (...) Como estão a reconfigurar-se as relações sociais, as formas de socialização e os processos de aprendizagem, com as novas ferramentas de comunicação?
Um estudo realizado este ano em nove países da União Europeia, incluindo Portugal, mostra como os adolescentes dos 12 aos 18 anos se encontram imersos no ambiente configurado pelas novas redes de comunicação e pelos novos media. O telemóvel, a Internet e as consolas de jogos vídeo constituem plataformas que configuram praticas e relações sociais e novas formas de ocupar o tempo. Noventa por cento dos 9000 inquiridos utilizam a Internet, sobretudo a partir de casa, e 70 por cento recorrem ao SMS para comunicar, de acordo com o estudo apresentado em 12 de Junho último, em Bruxelas. Não deixa de ser sintomático o modo como uma parte significativa da Imprensa portuguesa pegou nos resultados deste estudo que, recorde-se, visava conhecer as formas de apropriação dos novos media por parte dos adolescentes europeus. Com base no trabalho veiculado pela agência Lusa, o que interessou os media foi o facto de os pais controlarem pouco ? excepto em período de testes e de exames ? o consumo de Internet dos filhos. Ora, na apresentação de Bruxelas, os investigadores participantes debateram três facetas relacionadas com o facto de 50 milhões de jovens europeus estarem conectados online: ?O que fazem eles? O que fazemos nós? O que é necessário fazer?? O controlo do consumo de Internet pode ser um problema a considerar. Mas qual a razão que leva a eleger precisamente esse aspecto, quando há tantos outros dignos de atenção e, porventura, não menos importantes? O que se passa com os jogos online? Quem conhece os conteúdos dos blogues dos adolescentes e os interesses e perspectivas que exprimem? Como estão a reconfigurar-se as relações sociais, as formas de socialização e os processos de aprendizagem, com as novas ferramentas de comunicação? Como se redefinem os usos dos media mais tradicionais, neste novo quadro em permanente metamorfose? É caso para interrogar essa quase-obsessão com os potenciais malefícios da Internet e o correlativo quase-silêncio que assim se abate sobre as vozes dos mais jovens. É evidente que uma atitude de ingenuidade acerca dos riscos de uma relação encantada e acrítica com a Internet (e com outros media) seria tão grave como aquela obsessão. Mas definir os ?termos de referência? destas novas plataformas sobretudo em torno da ?agenda? dos potenciais perigos é adoptar a pior atitude possível: a atitude moralizante ou moralista como capa para o medo próprio face a um mundo em ebulição que se projecta povoado de fantasmas. Já a propósito da implantação da televisão se aplicou um velho provérbio que volta a ser oportuno recordar neste contexto: se viveres junto à praia, é preferível que ensines o teu filho a nadar a que construas um muro que o separe do mar. A nossa questão já nem está em viver junto à praia: de facto, vivemos já no mar. Num oceano agitado e de correntes fortes. E as nossas ferramentas para nele navegar talvez não sejam as que seriam necessárias e desejáveis. Avisados embora para os perigos, precisamos de investir é no desenvolvimento das competências de navegação. Que estão longe de serem eminentemente técnicas. Recorrendo a outro provérbio (oriental), ?mais vale acender uma luz do que maldizer a escuridão?.
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