NO SULCO DO LIVRO «SOB O SIGNO DE EINSTEIN»
A teoria, é quando a gente sabe tudo e nada funciona. A prática, é quando tudo funciona e ninguém sabe por quê // O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que os vêem actuar e se recusam a intervir // A ciência sem a sabedoria é como uma aposta na lotaria. Corremos o risco de perder tudo o que investimos // Nenhuma descoberta, nenhum progresso, nenhuma ciência podem contar, enquanto existir, em algum lado, uma criança infeliz // A imaginação é mais importante que o saber. Podemos saber tudo e não fazer nada, ao passo que, com a imaginação, nós podemos fazer tudo // Não existem senão duas coisas infinitas, o universo e a estupidez humana... mas quanto ao universo, eu não tenho a certeza absoluta!... // É mais difícil destruir um preconceito do que um átomo // Há mais perfeição numa simples gota de água do que em todas as máquinas inventadas pelos homens // Se fosse, um dia, necessário o desaparecimento das florestas, ao homem não restaria mais nada para chorar senão a sua árvore genealógica // O mais importante para um homem de ciência não são os seus diiplomas, nem o número dos seus anos de estudo, nem mesmo a sua experiência, mas, muito simplesmente, a sua intuição // Infelizmente, os progressos da ciência são, muitas vezes, como um machado nas mãos de um criminoso patológico... // A educação é o que fica, quando uma pessoa esqueceu tudo o que aprendeu na escola... // Todo o homem que pretenda interpretar e ensinar as coisas do Além, deve ser a risota dos deuses... [Citações/Axiomas seleccionadas de A. Einstein (1879-1955): sobre, a partir da sua própria Weltanschauung/Mundividência (cf. in ?Florimage/Dixit Einstein?, ed.na Internet, 2005, by Florian Bernard)]
1. Uma questão originariamente estrutural/estruturante
Que é, afinal, e em última análise, a POESIA?! A Poesia, no seu núcleo duro. Se é, primordialmente, um facto/fenómeno de Estética, ou a forma suprema (mais adequada!) de chegar à Verdade, descobrir e expressar a Verdade e o Verdadeiro!... Não esquecer (como nos ensina a Filosofia Perene) a unidade transcendental do ens, unum, verum, bonum et pulchrum. A Poesia (a boa/bela) é um facto/fenómeno de afirmação dos Eu//Tu, com todos os seus diferenciais. Tem, aí, origem o Diálogo (Dia--Logos) primacial e primordial, contra todas as teses ideológico/filosóficas, perversoras, do Terciarismo e do Discurso (filosófico e/ou científico) na terceira pessoa gramatical. No Diálogo, estrutural/estruturante, é Sócrates que emerge, contra Platão e Aristóteles e toda a Cultura do Poder-Dominação d?abord, até ao presente.
2. Da Filosofia e suas Funções essenciais
a) Toda a Filosofia, que atribui o primado absoluto à Verdade (uma entidade a definir sempre em termos objectivo-objectuais), em contraponto à Justiça e ao Justo, (realidades identificáveis sempre no esquema das Relações entre Sujeitos, não permutá-veis e, por isso, assimétricos, face aos Objectos), redunda em Sistema (ideológico) objectualista. Nesse horizonte, só há uma saída: a Filosofia ideológico-sistémica, a soldo da Cultura (sempiterna) do Poder-Dominação d?abord!... Em contrapartida, a Filosofia, que atribua o primado absoluto ao Justo e à deman-da da Justiça, sem tréguas, essa prossegue no caminho humanizante de Sócrates e de Je-sus. A sua índole própria leva-a a conferir o primado absoluto à (criadora) Relação Dialógica Eu//Tu, em vez da teia das relações objectuais, polarizadas no Ele (3ª pessoa gramatical...). As relações (desiguais) Senhor/Servo, Mestre/Discípulo, Pais/Filhos (esta mesma) só se podem ?redimir? mediante o processo de busca incessante do relaciona-mento igual entre o Eu e o Tu, no Diálogo socrático. Advirta-se que não se trata de re-denção religiosa, tão-só de um processus de psico-sócio-humanização.
b) Essa é a função essencial/nuclear do Humanismo Crítico. Resta configurar, sumariamente, o coeficiente que lhe é próprio e indispensável: O coeficiente consiste em descobrir e identificar o lugar dos Humanos no Universo e propor actuações adequadas e consequentes. É aqui que entra a Grande Questão de saber se os Humanos devem, ou não, limi-tar-se a repetir (reproduzir...), simplesmente, a gramática das espécies biológicas (a ?struggle for life?), que os precederam na Evolução (Biogénese). Quanto a nós, é óbvio que não. Seria trair a própria natureza da Espécie humana. Assoma, logo, outra Questão estrutural, articulada com a primeira: Como enfren-tar o Determinismo das leis físico-naturais, a partir de uma plataforma (criticamente consciente) da Cultura (contraposta à Natura), enquanto novo Universo substantivo da Espécie Sapiens/Sapiens. Ora, no que a esta Questão concerne, a vera Lectio a extrair do chamado Indeterminismo infra-atómico de Werner Heinsenberg (1901-1976) (o ?prin-cípio da incerteza?, expresso no facto de o observador alterar o observado, no execício do próprio acto da observação), deve conduzir-nos, não ao catecismo farisaico do Relativismo de todas as leis (misturando e confundindo os dois hemisférios das ciências: o das físico-naturais e o das sociais e/ou humanas), como fez e tem continuado a propor Boaventura de Sousa Santos (a partir do seu livro de 1987, ?Um Discurso sobre as Ciências?), ? mas, outrossim, ao horizonte e à gramática esquecida de Sócrates, o qual, nesta pen-dência concreta da Física quântica, e generalizando a partir desse princeps analogatorum, advertiria para a seguinte tese fundadora: há dois ou mais Sujeitos a fazer observação e a discorrer sobre o mesmo Objecto!... Integrando o Princípio de Identidade e Não-con-tradição nos Sujeitos individuais-pessoais, e não nos esquecendo de o pôr constante-mente em prática, é assim que vemos nascer o Conceito (crítico) socrático e abrir-se o caminho para uma convivência e um regime radicalmente democráticos.
Nota: Este texto é a 1.ª de 3 partes.
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