Chamada carinhosamente pelos britânicos de "tia", a rede pública de rádio e televisão BBC é, há 83 anos, a espinha dorsal deste país: uma venerável instituição à qual o governo apelou em Março para que se renove, levando «a diversão mais a sério». Os "telespectadores disseram-nos que querem a BBC a oferecer programas que querem ver e ouvir", explicou a ministra britânica da Cultura, Tessa Jowell, ao apresentar no Parlamento o Livro Branco sobre o futuro da rede pública mais respeitada do mundo. Ela insistiu que a BBC, British Broadcasting Corporation (BBC), deve, por isso, "levar a diversão a sério", embora deva prosseguir com a missão tradicional de informar e educar. "Os britânicos são os donos da BBC", insistiu a ministra. Mas isto não precisa de ser dito neste país, onde o grupo de rádio e TV faz parte há mais de oitenta anos da vida quotidiana dos britânicos, que a consideram um membro da família. "O apelido da BBC sempre foi 'tia', e isto resume a nossa relação", que é de "carinho e respeito". "Mas como é um membro da família, temos o direito de criticá-lo", explicou a antropóloga britânica Kate Fox. Esta relação com a BBC é tão especial que o imposto televisivo de 126,5 libras anuais (190 euros) pago por lar que disponha de uma televisão na Grã-Bretanha é considerado a "reforma que pagamos à tia", observou a autora do livro "Observando os ingleses". Ela destaca que a BBC é parte intrínseca do país, unindo as diferentes regiões, comunidades, gerações e profissões e que é mais fácil "imaginar a Grã-Bretanha sem a monarquia do que sem a BBC". Alguns dados reflectem esta relação: mais de 25 milhões de pessoas maiores de 15 anos escutam as notícias da BBC durante o pequeno almoço. E o programa de rádio de Terry Wogan na BBC 2 é ouvido por 8 milhões de pessoas todas as manhãs. Mas, apesar deste amor dos britânicos pela sua velha tia, a emissora tem sofrido uma perda de terreno desde os anos noventa. Em 1989, a sua audiência era de 39 por cento, mas em 2005 havia caído para 23,3 por cento, em parte devido à crescente oferta de canais digitais. Por isso o apelo do governo à emissora para que dê aos britânicos aquilo que eles querem: diversão. Mas mantendo a excepcional qualidade que a caracteriza. Em que outra televisão do mundo se pode assistir, no espaço de algumas horas, a uma palestra excepcional sobre "Dom Quixote", com entrevistas aos seus mais notáveis especialistas, seguida da música de Bach, reggae de Bob Marley, um debate sobre educação e outro sobre o aquecimento do planeta, como o que a BBC exibiu no dia anterior àquele em que escrevo este texto? E tudo isto sem um único segundo de publicidade. Só na BBC, responderiam os britânicos, mas hoje, graças aos canais internacionais, não serão só eles a dize-lo.
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