Somente compartilhando os significados que circulam pelas sociedades ? seja através das relações de amizade e vizinhança que estabelecemos, dos programas que assistimos na televisão, dos cursos que fazemos, das revistas e livros que lemos, das notícias que escutamos no rádio ? é que vamos aprendendo a ver e a ler de determinada forma as coisas do mundo e a estabelecer relações com os outros e com a natureza.
Os modos como enxergamos e nos relacionamos com a natureza são frutos do momento histórico em que vivemos. Muitas vezes, não percebemos que os nossos atos, as maneiras de narrar acontecimentos, os modos de vermos a nós mesmos e aos outros, tudo isso, são negociações que vamos estabelecendo diariamente com os significados que nos interpelam através da cultura. Somente compartilhando os significados que circulam pelas sociedades ? seja através das relações de amizade e vizinhança que estabelecemos, dos programas que assistimos na televisão, dos cursos que fazemos, das revistas e livros que lemos, das notícias que escutamos no rádio ? é que vamos aprendendo a ver e a ler de determinada forma as coisas do mundo e a estabelecer relações com os outros e com a natureza. Como já nos alertou Wortmann (2001), há uma multiplicidade de representações de natureza circulantes na cultura implicando em modos diferenciados de estabelecimento de relações dos humanos com a mesma. Contudo, precisamos estar atentos para não pensarmos que cada indivíduo, solitariamente através de sua consciência, seja capaz de construir sua própria idéia de natureza. Uma outra questão que precisamos considerar é que, em um mesmo momento histórico, diferentes representações culturais de natureza circulam pelas sociedades e, muitas vezes, contestam-se mutuamente. Podemos ver, por exemplo, uma variedade de significações em torno da questão dos produtos transgênicos. Há diferentes modos de significá-los e, tais maneiras, dizem respeito aos diversos interesses em jogo nessa disputa. Tomando como modelo as discussões em torno da soja transgênica no Brasil, podemos dizer que alguns agricultores defendem a liberação do seu plantio, pois avistam nela maiores possibilidades de ganhos econômicos; por outro lado, muitos ambientalistas consideram pouco seguro para a saúde humana e para o meio ambiente a liberação total do plantio dessa variante de soja. E mais, alguns outros sujeitos atrelados a outros movimentos sociais militam pelo plantio da soja convencional, defendendo o não favorecimento comercial de apenas uma grande empresa detentora dos direitos de fabricação e de comercialização das sementes transgênicas ? no caso da soja atrelando a venda das sementes à aquisição do agrotóxico, pois elas se tornaram resistentes à sua aplicação. Importante destacar, ainda, que ao explicitarmos essa arena cultural ? essa luta por imposição de significados em torno dos alimentos transgênicos ?, não esgotamos todas as posições que se vislumbram sobre a questão. Através desse exemplo marcamos somente que há uma multiplicidade de formas de ver, ler, narrar e se relacionar com a natureza. E mais, não há uma única forma, também, quando focamos um mesmo período ou uma aparente mesma conformação cultural. De acordo com os códigos culturais que são compartilhados pelos sujeitos, algo que é visto como uma ?solução? para alguns pode, também, ser compreendido como um ?problema? para outros. Tal antagonismo, aqui exemplificado de forma simplificada, não se refere, apenas, a uma questão de consciência individual. Lembramos que as posições que tomamos e os entendimentos que assumimos são frutos dos códigos culturais que compartilhamos.
Referências Bibliográficas
- WORTMANN, Maria Lúcia C. Da inexistência de um discurso unitário para falar da natureza. In: SCHMIDT, Sarai. A educação em tempos de globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
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