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No centenário de nascimento de Agostinho da Silva

Na passagem e merecida celebração dos cem anos de nascimento, vale a pena evocar a figura ímpar do Professor Agostinho da Silva, nascido no Porto em 1906, quando a República ainda se não tinha implantado e a partir desta cidade nortenha o autor de uma vasta obra filosófica e literária, a par de ser um excelente conferencista, de expressão viva e criativa, que andou pelas várias partes do mundo por ser impossível viver ou poder ensinar no Portugal de Salazar, o Professor Agostinho da Silva fez a sua longa caminhada de quase noventa anos, não a pregar no deserto, mas, um pouco no rasto camoniano de ter falado ou cantado tantas vezes a gente surda e endurecida. De facto, pelo sentido tão exemplar da obra que nos deixou foi sempre um arauto de novos tempos e outros sonhos, de anseios e diferentes combates, que espalhou um pouco por toda a parte,, sobretudo em Portugal e no Brasil, o autor de ?Vida Conversável? exerceu uma acção e intervenção intelectual de grande repercussão e estabeleceu profundas raízes no entendimento dos dois países. Peregrino laico que espalhou nos ventos o saber acumulado pelos anos à velha maneira dos filósofos gregos, o Professor Agostinho da Silva impôs-se como uma força visceral de saber integral e global, que afirmou do mundo e dos homens um sentido multidimensional tão enraizado na forma didáctica e "aberta" como construiu a sua importante obra literária, mesmo que por vezes se tenha mostrado propositadamente paradoxal.
Na forma pessoal de o Professor Agostinho da Silva saber conversar (e ficaram na memória de toda a gente as ?conversas televisivas? já nos últimos anos de vida). através de um demorado e inteligente diálogo trazendo à nossa memória pequenas "histórias"do próprio quotidiano, que começaram nos tempos de infância, passaram depois por Barca de Alva e a Baía (Brasil), mas não deixando de fazer considerações sobre as coisas do mundo e dos homens ou evocando personalidades do seu e do nosso convívio ou leitura, como Fernando Pessoa, Sarmento Pimentel, Alfredo Pimenta, Jaime Cortesão, Jorge de Sena, Darcy Ribeiro, Jânio Quadros ou Adriano Moreira. Mas sempre num declarado e justo sentido de saber que o impossível se pode alcançar pela persistência e exemplo de uma obra literária que, na diversidade dos temas literários e filosóficos que mais lhe interessaram, se revela ainda como imagem e espelho em que podemos rever o exemplo superior da lição espiritual que o Professor Agostinho da Silva exerceu e uma e outra vez o faz está junto de nós pela atitude viva, disponível e de certa rebeldia como soube ?conversar?com todos nós..
Assim, no gesto d celebrar o centenário do seu nascimento, dizer que o Professor Agostinho da Silva não deve nem pode ser esquecido e de todo se justifica a reedição da sua obra há muito afastada dos escaparates das livrarias.


  
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Edição:

N.º 153
Ano 15, Fevereiro 2006

Autoria:

Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.
Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.

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