Um colóquio interdisciplinar subordinado ao tema ?Qual é a Medida do Mundo? A Escala de Abel Salazar?, organizado pelo Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da Universidade do Porto, entre Novembro 2003 e Março 2004, e distribuído por 21 áreas fundamentais da arte, da filosofia e da ciência, passou quase despercebido. Paulo Cunha e Silva, na abertura do colóquio, dava uma resposta, aparentemente simples: "a medida do mundo é a medida do conhecimento que temos dele. Se tivermos pouco conhecimento o mundo parece-nos pequeno e confuso, se tivermos muito conhecimento o mundo parece-nos grande e complexo. O conhecimento é um criador de mundos, de mundos dentro do mundo, de mundos que se desdobram iludindo cada vez mais a sua dimensão". E justificava a matriz de Abel Salazar como inspiradora do colóquio por ele ser "uma das personalidades da Universidade do Porto que melhor contemplam esta ideia de multiplicação e desdobramento, ou seja, que melhor representam a natureza generativa do conhecimento" Um dos primeiros oradores, Jorge Sequeiros, ainda em 2003, ensaiou a resposta da Genética para a medida do mundo. "A medida do mundo depende, antes de mais, da definição que dele mais nos convier: o universo, o sistema solar, o globo terrestre, a parte do universo povoado pelo ser humano ou a própria comunidade humana? Neste contexto, creio que Abel Salazar estaria a referir-se ao ao mundo humano, à humanidade. A medida do mundo, pode assim reduzir-se à medida do ser humano". Falou depois do genoma, como nova medida do ser humano. "Com o programa do genoma humano, o DNA passou a ser o centro do mundo. E o genoma passou a ser a nova medida do ser humano: 3 mil milhões de pares de bases, 2 metros de DNA em cada uma das nossas células; e só 3% do DNA está ligado a genes, cujo número se estima seja cerca de 30 mil" (...) Sem a sombra de Lombroso, segundo o qual haveria criminosos natos, a Cândido Agra coube falar de crime. "O crime está na moda. A colonização que sobre exerce a não santa aliança constituída pelos media, a política e a opinião pública, oculta a profundidade do seu denso sentido na cultura e na própria definição da condição humana" Para além da crítica de tal colonização obscurantista, a conferência propôs-se evidenciar as relações entre o crime e esferas culturais como a ciência e a arte, numa reflexão situada a três níveis de análise: o crime como objecto de ciência (a criminologia) e de arte; a ciência e a arte como actividade no análogon do crime; e o crime enquanto acto fundador, através da consciência e da culpa trágicas, duma antropo-poiésis inventora das formações culturais de que tanto nos orgulhamos, da ciência, da ética e da estética. Numa das últimas sessôes, Sofia Miguens, evitando abordar o pensamento filosófico de Abel Salazar visou directamente o tema do ciclo ? o pensamento como medida do mundo, "tomando como pretexto o ?desejo filosófico? que animou o pensamento de Abel Salazar, e entendendo o desejo filosófico como a ambição do pensamento humano de abordar o mundo a partir de vários ângulos". Viajando de Kant até aos nossos dias, procurou localizar, "no mapa conceptual das linhagens da filosofia contemporânea desenhado, as tendências filosóficas de Abel Salazar." Também na Universidade de Coimbra, o Colóquio ?Ciência e Sociedade?, integrado na IV Semana Cultural da Universidade, cuja Conferência de abertura, a cargo de Juan Masiá Clavel, professor em Madrid e em Tóquio, abordou o oportuno tema ?Religião, Ciência e Ideologias? teve pouco impacto junto dos meios de comunicação social. A mesa redonda que se seguiu, sobre ?O que é a ciência e qual a importância da cultura científica na nossa sociedade?? também andou ausente das páginas de jornais, das rádios e das televisões. Nestes tempos de fortíssimas tecnologias e auto-estradas de informação, é estranho e preocupante que instituições como as Universidades do Porto e de Coimbra não consigam furar a cintura de silêncio que rodeia estas Escolas ameaçadas de anquilose nas redomas que as prendem, mesmo quando tentam abrir as respectivas portas à sociedade, à cidade que servem. Não é, também sendo, culpa das Universidades No Porto está a decorrer desde Fevereiro, no Auditório da Reitoria, à Rua D. Manuel II, sempre às 15 horas, um ciclo de colóquios subordinado ao tema "Despertar para a Ciência". A transformar esta Universidade, nestas iniciativas de entrada livre, numa potencial Universidade Popular. Aqui fica o registo das próximas sessões, para furar o cerco ou partir o vidro da redoma. 27 de Abril AVENTURAS DA ÁGUA NO MAR NOS SUBTERRÂNEOS DO OCEANO Fernando Barriga Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa
11 de Maio DA REPARAÇÃO À REGENERAÇÃO DOS TECIDOS: O LARGARTO E A ENGENHARIA Mário Barbosa Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto
25 de Maio COMO SE ADAPTA O CÉREBRO AO CONHECIMENTO DA ORTOGRAFIA Alexandre Castro-Caldas Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa
8 de Junho CÉREBRO E VISÃO: DA ARTE À ENGENHARIA João Lobo Antunes Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa
22 de Junho COMUNICAÇÕES MÓVEIS: PASSADO, PRESENTE E FUTURO Carlos Salema Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa
12 de Outubro FALEMOS DE MEMÓRIA Rui Mota Cardoso Faculdade de Medicina, Universidade do Porto
19 de Outubro CARTOGRAFAR, IMAGINAR: O PAPEL DOS MAPAS NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA GEOGRAFIA PARA A EUROPA João Ferrão Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa
2 de Novembro O UNIVERSO (VISÍVEL E INVISÍVEL) QUE SE VAI DESCOBRINDO Teresa Lago Faculdade de Ciências, Universidade do Porto
16 de Novembro TEMPO: DO BIG BANG ÁS DESCOBERTAS, DO FUSO HORÁRIO À INTERNET Rui Agostinho Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa
30 de Novembro A CIÊNCIA E O FUTURO Filipe Duarte Santos Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa
14 de Dezembro A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER João Caraça Serviço de Ciência, Fundação Calouste Gulbenkian
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