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Baptista-Bastos recebe Grande Prémio da Crónica

Na altura de celebrar setenta anos de uma vida cheia de livros, crónicas, entrevistas, reportagens, textos de elogio crítico, muitos  e vários prefácios, numa actividade de jornalista que conheceu momentos altos como excelente profissional, Baptista-Bastos acaba de ser consagrado, e muito justamente, com o ?Grande Prémio da Crónica/2003?, atribuído pela APE-Associação Portuguesa de Escritores ao seu livro Lisboa Contada pelos Dedos, que reúne crónicas saídas em ?papel de jornal? nas colunas de República, Diário Popular e outros, mas no propósito firme de retratar uma Lisboa sempre próxima e distante, no calor da emoção e da memória, no fio compassado dos dias e dos anos.
Nas crónicas que reúne neste livro, Baptista-Bastos estabelece pela sua escolha pessoal  uma espécie de  "breviário" para enaltecer, nos altos e baixos de uma cidade como Lisboa, tudo o que de essencial um jornalista e escritor de obra reconhecida, sempre atento à valorização do quotidiano, sabe captar tantas vezes de forma comovida no que se passa no mundo à sua volta. Daí que o autor de O Secreto Adeus faça neste livro uma espécie de "milagre" pelo arrancar de flagrantes situações da vida fragmentos ou imagens para a construção de um todo que reafirme a sua identificação com todos os problemas, numa comunhão de palavras e de sentimentos, de ideias e emoções, nesse seu modo de falar em voz alta como Baptista-Bastos gosta de dizer ou nas palavras do prefácio desta edição de Lisboa Contada pelos Dedos: " Querer justificar a loucura e a soberba que me conduziram a reincidir na reunião de textos escritos em (e para) papel de jornal. As crónicas que deponho agora nas suas mãos são, pretendem ser, humildes quadros de pessoas que aprenderam sem ser ensinadas. Pessoas que, embora atenuando as suas desgraças, nunca apagam a lembrança das suas revoltas?.
Em tudo o que arrisca e põe em questão, na sua forma de denunciar e intervir, Baptista-Bastos revela neste livro uma visão muito própria de retratar um mundo de gente com quem dialogou no fio dos anos e tudo se afirma de forma comovida ou irónica, mas numa intenção marcadamente humanizada, na lembrança das ruas lisboetas de infância ou adolescência (Largo da Paz, Calçada ou Palácio da Ajuda), na evocação de gentes que andaram a seu lado e com elas dialogou em tempos de aprendizagem, na descoberta do mundo (Aquilino Ribeiro, José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira, Alves Redol e outros) ou na memória dos amigos de estúrdia e boémia por lugares que permanecem vivos na sua memória, enfim, sempre o sentido de crónica ou de reportagem está presente nas páginas de Lisboa Contada pelos Dedos, como um círculo ou périplo que se não fecha e percorre os meandros mais fundos da vida em comunhão e solidariedade com os outros.
Por isso, ao completar os seus setenta anos, é bom salientar uma vez mais em Baptista-Bastos a força e a limpidez da própria escrita: cortante, exacta e meticulosa nos pormenores, sempre rigorosa no que descreve e narra na certeza de saber que, dividido entre a ficção literária e a crónica ou reportagem jornalística, o autor de A Colina de Cristal é, sem favor, um dos nomes mais destacados da nossa literatura, não só pela qualidade da escrita, mas sobretudo pelo sentido polémico e intervencionista como tem sabido definir as suas posições com grande verticalidade. E por isso não será demais dizer e repetir as palavras de Luiz Pacheco: "Leiam o livro todo. São trabalhos jornalísticos exemplares. Há talento, há verve, há ousadia, há um homem, há um escritor".

Baptista-Bastos
LISBOA CONTADA PELOS DEDOS
Ed. Montepio Geral / Lisboa, 2001.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 131
Ano 13, Fevereiro 2004

Autoria:

Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.
Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.

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