Depois dum curso de complemento de formação pedi que me escrevessem algo sobre como o curso tinha ou não mexido com as pessoas; tinha ou não atingido os objectivos que preconizava. Deixo-vos, justamente, com parte dos depoimentos desses professores e educadores, em carne e osso, da Ilha Terceira e da ilha do Faial.
Na formação contínua tenho investido essencialmente na avaliação como forma de autoformação; na reflexão autobiográfica como forma de consciencialização das práticas e, portanto, como autoconstrução. Tenho sensibilizado os formandos para o facto de também o professor ter de se transformar para entender o outro, o aluno, um corpo biológico socializado e enculturado com determinada cultura, a inicial, mas que tem que, entretanto, optar entre as várias vias que a vida lhe concede e (re)vestir-se com os outros códigos culturais que vem a querer ou não integrar no seu self . Depois dum curso de complemento de formação, depois da discussão de trabalhos de projecto que orientei, pedi que me escrevessem algo sobre como o curso tinha ou não mexido com as pessoas; tinha ou não atingido os objectivos que preconizava. Deixo-vos, justamente, com parte dos depoimentos desses professores e educadores, em carne e osso, da Ilha Terceira e da ilha do Faial, com dilemas que ajudei a resolver, com dilemas que eu próprio construí por os ter posto a pensar quem eram, quem são e quem querem ser. A eles muito obrigado por tanto que me ensinaram. As palavras desses profissionais, que de uma forma anónima aqui fixo, falam por si. Não permitem tanto aceder ao processo de formação (hetero e auto), como tenciono fazer noutro espaço, mas permitem avaliar da avaliação que os formando fizeram no final de uma caminhada onde muito se insistiu na autoreflexão como forma de reconstrução identitária.
Aprender significa transformar-se
?A hora mais escura é precisamente a que vem antes do Sol nascer. Foi mais ou menos isto que eu senti ao iniciar este curso. Expectativas não tinha muitas, talvez curiosidade! Não sabia bem o que iria encontrar..., tinha algum receio, talvez por voltar a estudar após tantos anos sem o fazer... Depois de me começar a embrenhar nos livros, muitas coisas novas descobri, algumas relembrei e outras comecei a ver com outros olhos... ?olhos de ver?. Retomei alguns prazeres que há muito tinham sido abandonados, tal como o prazer de ler e de me interrogar sobre o que se passa em meu redor. [...] A minha prática pedagógica também foi alterada com tudo o que aprendi. Agora sei concretamente como e porquê valorizar a cultura de cada criança, fundamentada não só no meu empirismo individual, mas, também, pelo pensamento de autores que li e novas ideias que assimilei. O meu saber pessoal foi também alterado, pois, segundo as suas próprias palavras, aprender significa transformar-se?.
Transbordar o que aprendi
?As minhas expectativas eram muitas, embora não imaginasse muito bem o que iria acontecer nestes dois anos. Será que ia conseguir chegar ao fim da licenciatura? Iria valer a pena tanto sacrifício? Seria uma ocasião para parar, reflectir e melhor agir? Mas, hoje, digo sinceramente, o curso excedeu as minhas expectativas. [...] A integração foi o mais complicado, pois sentia-me desabituada de estudar, lia e parecia-me que já não sabia o que tinha lido. [...] foi muito complicado "apanhar de novo a pedalada de estudante". Virar costas muitos dias e muitas horas aos meus filhos e marido para ir fazer algum trabalho e estudar, por vezes, não foi tarefa fácil. [...] Adquiri novas competências, qualidades e sinto que hoje tenho mais possibilidades de ser uma profissional melhor, mais activa, reflexiva e inovadora. O que penso fazer, é "transbordar" o que eu aprendi para que possa também "contagiar" os colegas que comigo trabalham e tentar junto deles que façamos da nossa escola um lugar lindo, atraente, onde os nossos alunos se sintam amados, e acarinhados, para que, juntos, possamos encontrar um melhor e mais justo equilíbrio Entre a escola e o Lar?.
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