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Ecoturismo: Tendência de futuro!

Não há turismo sem consequências envolvimentais. O Homo turisticus não viaja sem deixar os seus traços. Tanto mais que ele não se desloca sozinho - 700 milhões de humanos fizeram viagens em 2000; daqui a 20 anos, este número deverá duplicar.

Para melhor os acolher, transformam-se terras de cultivo e florestas em terrenos de golfe, devastam-se falésias para construir empreendimentos com vistas abertas e privilegiadas para o mar, poluem-se as montanhas com todo o tipo de dejectos para ir mais alto, aniquila-se muita da flora e da fauna para ir mais longe, invadem-se muitos territórios urbanos ou rurais para estar mais in.
Mas ao contrário da mensagem que habitualmente é passada, é possível, sem deixar de considerar o turismo como uma indústria economicamente importante para as nossas sociedades, fazer grande parte das suas práticas de outra maneira, com outra consciência social e outra responsabilidade. Quer dizer, um turismo responsável, como subproduto dum comércio equitável, que contemple princípios ecológicos, igualitários e onde se dê a conhecer às pessoas os pressupostos do desenvolvimento durável e, desta forma, aplicá-los em todos os sectores da actividade.
Preocupada com este fenómeno, a ONU declarou 2002 o ano internacional do ecoturismo. Neste sentido, a cidade de Québec acolheu, entre 19 e 22 de Maio último, a cimeira mundial do ecoturismo, onde perto de 1200 delegados, representando 126 nações, adoptaram uma declaração definindo os contornos do turismo responsável. Depois de terem aferido o conceito, os intervenientes concluiram que competia aos governos, à indústria turística, bem como às comunidades implicadas, fazer a promoção desta nova tendência. Isto é, encarregarem-se de fazer a divulgação de um turismo que comporte uma parte de educação, proveitoso para a população local e que contribua para a tomada de conciência da necessidade de preservar o capital natural e a cultura.
O equilíbrio dos territórios que se encontram ainda em bom estado de preservação está ameaçado, dia-a-dia, pelas excessivas concentrações humanas de origem turística.
Existem ainda, em muitas zonas do globo, potenciais riquezas de destino turístico. Sendo, por isso, necessário dar-lhes evidência e, concomitantemente, encontrar maneira de as proteger.
Mas uma questão não pode deixar de se colocar desde já. Estarão as pessoas - especialmente as grandes massas que se deslocam permanentemente para fazer turismo ou para viajar - sensibilizadas para pôr em prática outros comportamentos relativamente aos recursos, também eles esgotáveis no campo dos territórios turísticos ? A resposta parece-nos por agora evidente. Não!
As esperanças e as expectativas colocadas na cimeira mundial do ecoturismo foram, de facto, enormes. Os resultados só aparecerão daqui a alguns anos. Mas se eles tocassem, desde já, o mundo político, fazendo aparecer o ecoturismo no vocabulário dos governos e partindo daí para a adopção e desenvolvimento de uma estratégia, seria muito positivo.
Conceito bastante recente, o ecoturismo está à procura do seu código de ética, para preservar e tornar os ecossistemas terrestres mais humanizados. Irão os turistas dos países mais desenvolvidos do planeta, passar para segundo plano, quando necessário, o seu conforto e os seus modelos de comportamento estandardizados, para dar lugar a esta nova tendência ? Uma tendência que procura o compromisso com a descoberta do meio natural, preservando a sua integridade, e que compreende actividades de interpretação dos lugares naturais ou culturais do meio, que favorece uma atitude de respeito para com o envolvimento, que faz apelo às noções de desenvolvimento durável e que, ao mesmo tempo, contribui com benefícios sócio-económicos para as comunidades locais e regionais.
Como foi dito a aposta foi grande. Os primeiros resultados, talvez, daqui a uma década. A ver vamos!


  
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Edição:

N.º 115
Ano 11, Setembro 2002

Autoria:

António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal
António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal

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