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Governo brasileiro contesta acusações de Jean Ziegler sobre a pobreza

O Governo brasileiro contestou as declarações do representante especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à alimentação, o socialista suiço Jean Ziegler, que afirmou que o Brasil, a par da África do Sul, é o país da ONU com maior índice de desigualdade social.
Dezoito horas depois de ter desembarcado no Brasil e de ter percorrido seis Estados do país, Jean Ziegler declarou numa entrevista ao Jornal Folha de São Paulo que no Brasil "coabitam uma França, uma Alemanha e uma Somália". Segundo o sociólogo, que apresentará um relatório sobre as condições de alimentação e nutrição da população brasileira no início de julho à ONU, a fome no Brasil "não é uma fatalidade, mas um crime" contra a população, acrescentando, citando estatísticas oficiais, que o "Brasil vive uma guerra social" que mata 40.OOO pessoas por ano.
No seu relatório, Jean Ziegler vai apresentar dados oficiais, números do Partido dos Trabalhadores (PT - esquerda), segundo o qual o país alberga 44 milhões de pessoas que passam fome; e um levantamento de dados feito pelo município de Duque de Caxias (Estado do Rio de Janeiro), que estima o número em 55 milhões.
"Os dados indicam uma contradição absurda e inadmissível que faz do Brasil,
com a África do Sul, o mais desigual entre os 190 países membros da ONU",
estimou Ziegler.
Para Jean Ziegler, não há nenhuma desculpa para o facto de, num país tão rico como o Brasil, 23 milhões de pessoas (das 170 milhões) sofram de fome, segundo um relatório do próprio governo. Num comunicado oficial, o ministério brasileiro para os Assuntos Estrangeiros "lamenta profundamente o tom pouco construtivo e desequilibrado das declarações do professor Jean Ziegler".
As reacções da imprensa também não se fizeram esperar. Desde colunistas a analistas políticos políticos todos criticam as declarações do representante suiço e a reacção das autoridades. "O que disse Jean Ziegler não é nada diferente do que afirma qualquer brasileiro que tenha um pouco de bom senso. A reaação do governo é ridícula, é a de uma república das bananas", escreve o colunista do Jornal o Globo Artur Xexeu. "O papa João XXIII já tinha dito que a fome não é uma fatalidade mas um crime. Nós conhecemos todas as desigualdades no Brasil e Ziegler colocou o dedo na ferida", afirmou, por sua vez, o colunista e escritor Heitor Cony.
Para os analistas em geral, o Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso não "fez nada" para remediar a situação em oito anos de poder e contrariar um problema que existe há mais de quarenta anos, pelo qual o país até já recebeu um apelido: "Belindia" (mistura de Bélgica e Índia).


  
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Edição:

N.º 111
Ano 11, Abril 2002

Autoria:

Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação
Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação

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