"É curioso que um homem possa viajar em diversos navios ao longo da sua
vida, sem nunca se preocupar com a oculta energia motora que os faz mover,
mas é assim que muitas pessoas vivem a sua vida, todos os dias - os homens
comem e vestem-se e tratam dos seus assuntos, sem nunca pensarem no suor de
todos os escravos que trabalham para moer o trigo e tecer os tecidos e pavimentar
as estradas, não pensando nessas coisas como não pensam no sangue que lhes
aquece o corpo ou no muco que lhes aconchega o cérebro."
Steven Saylor, O Abraço de Némesis, Quetzal, Lisboa, 2000,
p.37.
(Meditações do cidadão Gordiano, época de Marco Crasso).
Devemos pensar, nos tempos conturbados que vivemos, no papel dos professores.
De modo algum julgando-nos "redentores" sociais, mas entendendo que o docente
tem de gerar níveis cada vez maiores de consciência. Desde os alunos que são
ainda crianças, até aos universitários, a compreensão de que vivemos numa sociedade
violenta e geradora de exclusão, doenças, pobreza e, por outro lado, de acumulação
de riquezas imensas, tudo isso é parte do que os professores devem entender
e explicar.
Textos simples mas apoiados em números de entidades como a ONU, podem fazer
compreender a realidade dos nossos dias. Trabalhemos pela globalização da cultura;
se tal for possível, a luta pela erradicação do analfabetismo deve ser encarada
como crucial. Sem o acesso a um mínimo cultural (hoje cada vez mais elevado)
as pessoas são condenadas ao desempenho de tarefas "mecânicas" e a baixos salários.
No nosso tempo é banal a exigência, por parte dos empregadores, do domínio
da língua inglesa, dos conhecimentos mínimos necessários à utilização de computadores,
da posse da carta de condução. Há 30 anos o que dissemos seria interessante
num "curriculum vitae". Agora é normal e não se espera que o candidato ao emprego
seja um "analfabeto tecnológico". Como é óbvio, os analfabetos funcionais, nesta
lógica, também não terão lugar no mundo do trabalho. É evidente que (como começámos
por dizer) os docentes não podem, sem ajuda, tratar de todos os problemas de
"adequação" dos discentes a um mundo cada vez mais exigente. Falar de Ensino
ou Educação é falar do direito a férias, à alimentação, a apoios sociais que
parecem ameaçados.
Os docentes não podem ser utópicos seguidores de Rousseau, mas também não
podem ser insensíveis e desprovidos de capacidade crítica. De outra forma voltamos
ao tempo dos escravos o que não representa qualquer solução, antes será um erro...
crasso!
Carlos Alberto Mota
Maria Gabriel Cruz
UTAD
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